segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Melancolia (2011)




Lars Von Trier passou por um período de depressão. Ele descobriu, no fim dos anos 90, que não era filho de seu pai pela própria mãe em seu leito de morte. Isto o tornou um dos melhores cineastas da atualidade, porque é sempre sobre a tristeza que ele trata seus filmes. Ok, você tem aquele movimento fajuto chamado "Dogma 95" criado por ele, que não significa absolutamente nada, mas você tem "Dançando no Escuro", "Onda do Destino" e o sensacional "Dogville". É um diretor de respeito.

Melancolia é mais um exemplo disso. A fotografia é sensacional e a tristeza aqui é novamente representada nas personagens femininas. Justine, de Kristen Dunst, sofre de depressão. É uma mulher que não sabe lidar com a felicidade, e, logicamente, estraga tudo. Pessoas depressivas são egoístas porque gostam de contagiar a todos com sua tristeza. Justine é uma mulher que existe para ferir as pessoas para aproximá-las dos seus sentimentos.  É aquela que quer ser cuidada, odiada, e desprezada. Ela não consegue atingir seu pai e nem sua mãe.E a primeira parte do filme, que talvez nos faça odiá-la, num primeiro momento, nos faz entender uma visão sobre  com é  mais fácil lidar com o fim do mundo sendo ela.

Charlotte Gainsbourg, pra mim, muito melhor atriz que a Dunst, é a nova preferida do Trier, porque é o segundo melhor papel que ele dá a ela. Vive a  frágil, porém, otimista, Claire. Mulher que vê as pessoas em volta e faz de tudo pra tornar sua irmã feliz, mas naquela forma, um tanto hipócrita, de querer conduzir a situação, modificando as pessoas ao seu modo de lidar. Ela sabe do fim do mundo, mas tenta acreditar que há chances de sobreviver. Claire é aquela que quer estender a mão pra salvar as pessoas. Justine quer aproximá-las pro seu fundo do poço.

O filme trata de um planeta que vai se chocar com a Terra. Na primeira parte, vê-se um casamento dos sonhos dado por Claire a Justine. Ela estraga tudo, claro. Os primeiros 10 minutos de filme são imagens em câmera lentíssima, com uma fotografia sensacional, que mais parecem quadros em movimento, seguidos da história, com o casamento de Justine e seus altos e baixos, e pelo início do seu surto. Neste momento, vemos que a pessoa mais sincera é a sua mãe, que, mais tarde, percebemos ser versão madura da própria Justine. O filme passa um pouco arrastado nesta parte, porque você precisa se reiterar ao sofrimento da Justine, a personagem mais representativa do filme.

A segunda parte, trata da visão da Claire. Apavorada, pelo fim do mundo, ela busca na esperança uma forma de se firmar e seguir adiante. Ela NÃO ACEITA a versão científica. E, na visão do diretor, é uma forma do ser humano se enganar quanto ao exato, sempre se conformando com o seu destino ou quanto ao que os outros dizem. Seu marido é astrônomo e tenta convencê-la de que há sensacionalismo e propagação do terror em cima de uma possível catástrofe que, pelos seus cálculos, não ocorreriam. E aqui, insere-se toda e qualquer referência absurda sobre totalitarismo, nazismo a qual o Lars foi relacionado por suas declarações no Festival de Cannes. Nunca houve qualquer indício disso em sua obra. Muito pelo contrário.

Depois de apresentadas as personagens, vemos como elas lidam com a catástrofe. O filme não tem uma história linearmente contada. Centra-se no sofrimento das personagens e nos diálogos, a princípio, desconexos. Não é lá muito fácil de assistir. É como ler um texto prolixo e subjetivo: ou você embarca na onda do diretor e passa a analisar as coisas bombardeadas de frases soltas; ou, você apenas vê o desenrolar, pra depois organizar tudo e você mesmo sequenciar os fatos.

É marcante no cinema de Lars o drama sempre contado a partir de personagens femininas. Talvez, isso tenha a ver com a sua mãe e sua depressão, talvez, seja porque elas tenham maior potencial dramático,mas que este seja um dos melhores diretores, com os melhores filmes das ultimas duas décadas, não há menor dúvida.

*Este filme se deve todo a ele.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Além da Vida

Clint Eastwood fez um filme sobre a morte. Nos seus 80 anos de idade, começou a pensar a respeito e resolveu tratar da morte a partir dos vivos, das experiências quase-morte, da maldição dos médiuns e das pessoas que precisam se comunicar com os que já se foram. É um filme que, segundo ele, poderia ter sido realizado aos seus 30 anos. Certamente, ele poderia ter começado com um filme assim.

A história, na verdade, são três que se entrelaçam. 3 pessoas que vivem em países diferentes. Marie está na Tailândia e presencia um tsunami, é arrastada pelo mar, (quase) morre, mas é ressuscitada. George é médium, que quase morreu quando criança, mas foi trazido de volta, e desenvolveu o "dom" de se comunicar com os mortos, algo que ele renega. E, por fim, Marcus, que perde o irmão gêmeo Jason atropelado,mas não consegue se desvincular da presença dele.

Acabou a sinopse, acabou a história. O que Clint faz no filme, é apresentar as personagens e a forma como elas lidam com a mudança em suas vidas. De forma superficial e forçada. Filme clichê, daquela visão da morte como visualização dos vultos contra a luz e da não aceitação da perda dos entes queridos. E nisso, soma-se as desgraças dos personagens  secundários ao lado dos protagonistas. Quem mais comove é o Marcus. O ator, uma criança, de longe, é o que tem a maior dramaticidade e história dos três. É o que traz um certo propósito, já que ele busca se comunicar com irmão, e, neste caminho, passa por diversos charlatões, etc. Marie, jornalista rica, bem sucedida, não tão sortuda em relacionamentos, tenta escrever um livro sobre sua experiência, atordoada pela situação pela qual passou, procurando explicação científica,em que todos pensam que ela é louca. Veja você que a experiência dela é a mesma contada zilhões de vezes. O filme se passa nos dias atuais e o diretor quer que você acredite que é algo novo.

É um filme com temática batida, mal resolvido, o entrelaçamento das histórias* se dá de forma tão forçada como foi a quase morte da Marie**. É sem dúvida o pior filme da carreira do Eastwood. Não chega a ser o pior da vida de ninguém, porque você realmente vai gostar do Marcus.

Apenas, se assistir, não esqueça que ele fez "Mundo Perfeito",  "Sobre Meninos e Lobos" e "Gran Torino". Só por esses filmes, você nunca vai tomá-lo como diretor mediano, apesar deste filminho medíocre. E pensa que ele está velhinho, sensibilizado pela morte, que , na verdade, gostaria de ser novato, fazendo filme digno de iniciante.Talvez, no tema morte, seja, porque os filmes que ele fez sobre a vida são maravilhosos.




*Eles se encontram em Londres numa feira de livros e palestras sobre  o tema. Marie está lançando o livro, rola um climinha com o George, aí aparece o Marcus, George é perseguido. Algo assim, que, nas duas horas de filme, ele realiza em 15 minutos.

** A Marie, durante o tsunami,  se agarra a um tronco, e a carroceria de um carro se choca com ela de costas, ela desmaia. Aí, é salva e fazem respiração boca a boca, como se fosse afogamento, e ela até cospe a água dos pulmões.