quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eu não tenho paciência pra Bergman e Godard. Pra mim, são uma espécie de parnasianismo do cinema. Meramente estéticos. E quando você discute cinema em comunidades e fóruns de cinema, sempre vai esbarrar com pessoas que simplesmente não sabem diferenciar um filme que é mero exercício de estilo de um filme bom. E isso é irritante, porque elas se contentam em apenas identificar o estilo, acham o filme ótimo, por causa do diretor e não conseguem analisar o principal, que é o argumento.

Um exemplo disso é o cinema espanhol, que todos identificam, principalmente, nas figuras de Almodóvar e Bigas Luna, diretores que lançaram os atores espanhóis mais famosos da atualidade: Penélope Cruz, Antonio Banderas, Javier Bardem, Victória Abril, Rossy de Palma, etc. E que o estilo pelo estilo não vale a pena, porque o cinema espanhol, que é top dos melhores cinemas da atualidade, só evoluiu depois que o Almodóvar achou que seus filmes já estavam se tornando cafonas e fez o “Tudo sobre minha Mãe” e, em seguida o “Fale com Ela” (auge dele).

E aí, você, meu caro, fã de Johnny Depp, de “Edward - mãos de Tesoura”, do Tim Burton, que também o dirigiu em “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”, “Sweeny Todd”, além dos remakes bosteadores de “A fantástica Fábrica de chocolate” e “Alice”, onde o inverso deve tê-lo envergonhado por ter feito filmes tão sofríveis como “Batman” e “Batman - Eternamente”, claro que você vai preferir o Coringa do Jack Nicholson e o Duas Caras do Tommy Lee Jones a Heath Ledger e Aaron Eckhart, respectivamente, porque você não consegue distinguir que os perfis dos personagens são completamente diferentes que a visão do Christopher Nolan é muito maior que a capacidade interpretativa dos atores. Você praticamente teve dois grandes atores fazendo papéis infantis. Tudo porque Tim Burton, nas suas limitações criativas, só consegue fazer filme “pseudo terror- infantil- noir”, onde o máximo que ele consegue é fisgar público com mentalidade adolescente, que posteriormente vira fã e transforma duas belas porcarias em filmes cults.

E é engraçado falar do Tim Burton, que você se lembra da Helena Boham Carter, que também atua como esposa do mesmo na vida real, sendo que o melhor filme dela foi um dos poucos que ele não dirigiu, Clube da Luta, conhecido também como aquele que enfatiza a discrepância de atuação de outro Edward – o Norton-, do Brad Pitt, que interpretam a mesma personagem. Filme do David Fincher, diretor que tem 100% de aproveitamento. Todos os filmes dele são bons. Em comparação há outro David, Lynch, que é o diretor mais superestimado da história do cinema, com seu filme MEDÍOCRE “Cidade dos Sonhos” que todo pseudo intelectual metido a Cult adora dizer que é o melhor filme da vida, filme que foi feito pra não ser entendido e ele entendeu. Diferente de um outro David, Cronemberg,um dos diretores mais inteligentes do cinema atual, que tem uma carreira extremamente alternativa. Fez dois filmes que, pra mim, tem valor científico, na área médica mesmo, tamanha a seriedade, sensibilidade e perfeição que ele aborda a esquizofrenia sob o ponto de vista do paciente (Mistérios e Paixões) e de terceiros (Spider).

Enfim, eu fiz essa ciranda toda pra tratar de estilo e talento de diretores e qualidade de filmes com o que falam os pseudo intelectuais de cinema, que me irritam tanto, porque invalidam qualquer discussão a respeito da temática dos filmes e acham que entendem mais os filmes que o próprio diretor. Têm o diretor como um gênio e muitas vezes ele não é.

Não esqueci que eu comecei tudo com o Almodóvar só pra terminar dizendo o que muita gente não sabe: o Almodóvar não tem formação acadêmica. Ou seja, a maior referência do cinema espanhol da atualidade era pobre e aprendeu na prática a fazer bons filmes, sendo copiado por um monte de gente que estudou pra copiá-lo quanto a estilo. E, muitas vezes, a carreira de um diretor é mais tomada pela forma como ele produz, na maior parte das vezes somente pra ganhar dinheiro, do que, propriamente pela qualidade da obra. Grandes diretores têm o currículo menos quantitativo que copiadores porque o público a que eles se destinam é o que pode apreciá-los e não necessariamente o que pode consumi-los.

Ficou superficial, eu sei, mas eu quero tratar mais de estilo e estética num próximo post, vou diferenciar os dois movimentos que eu mais critico: Nouvelle Vague e Dogma 95.

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