sábado, 9 de abril de 2011

(Nós x Eles)²

Pela enésima vez, vemos crianças pagando pelos erros dos adultos. E o que aconteceu com o Welington e as crianças assassinadas por ele é consequência de atitudes e omissões dos outros, que deveriam fazer e não fizeram. Estou falando de pais, educadores, policiais, seguranças. Pessoas que estão pra ensinar e proteger. A violência que vimos esta semana é consequência das distorções de papéis, do medo da responsabilidade e do pragmatismo dos nossos governantes e da política educacional do Brasil*.

Eu entendo sinceramente a revolta, o ódio, indignação, tristeza das pessoas, mas não entendo a surpresa. Supresos com o quê? Aonde que esta tragédia é inédita, inesperada? E digo mais:poderia ter sido evitada, se as pessoas cumprissem com seus papéis na hora que têm que agir. O vilão da história passou boa parte da vida, época em que se constrói caráter, sendo humilhado e teve sua dignidade reduzida a nada. Sofreu reiteradas humilhações, repúdio dos outros como ele, e tudo isso negligenciado pelos "adultos" próximos. Tinha tratamento com psicologa que não o encaminhou para um psiquiatra, tendo em vista que ele era esquizofrênico., que deixou por ele, um incapaz, escolher se deveria continuar com tratamento ou não.E olhe que vivemos sob uma constituição e um idealismo que coloca a dignidade da pessoa humana como príncipio de tudo. O que vem antes, é o que significa a palavra príncpio. Isso que tem que ser investigado no Wellington.

É indiferente saber quem o matou ou se ele se suicidou, como também existe indiferença em relação ao sentimento dos outros. Eu penso que- quando você menos presa a existência de outro ser humano, e o coloca como ele se vê abaixo do mínimo, você se torna responsável pela violência que ele venha a cometer. É bonitinho ver Saint Exupery e a história do pequeno príncipe com a raposa, mas o contrario sensu também é verdade. E a raposa, no nosso mundo real, não tem a mesma fama que a do livro. É ironia fina.

O vilão, quando morre, acaba a história. O atirador morreu, aí as pessoas começam a ficar perplexas, indignadas, revoltadas com a crueldade e com todo imediatismo da situação. A história do atirador começou na hora em que ele entrou na escola e terminou quando ele morreu. De resto, é preciso apenas saber quem deu as armas, e se iniciar toda uma política de desconstrução e desumanização dele, junto com as famigeradas passeatas pela paz. Não se discute violência no nosso país porque não se discute ética. Somos um povo que vê as coisas sob olhar acusador, porque,de outro modo, humanizaríamos os vilões e, assim, nunca teríamos a reação de estarmos lidando com casos bárbaros como se fossem inéditos.

E todos os casos de repercussão são vistos como novelas. O suposto policial que matou o suicida é tido como herói. A violência começa com as mortes e terminam com o fim do inquérito policial. É o prazo em que as notícias se exaurem e cansam o telespectador.É mais ou menos esta a sensação que me dá.

Antes do incidente, Wellington não era nada, e agora ele é um assassino. Então, humanizemos os Wellingtons antes que eles se tornem assassinos. Não tratemos crianças como apenas crianças,mas seres humanos em formação. Tudo isso poderia ser evitado e ainda se pode evitar pra outras pessoas futuramente.

A diferença entre o herói e o vilão, é que, ao herói, é ensinado a olhar pelos outros, e o vilão se vê obrigado a olhar por si, por não ter quem olhe por ele.

*Basta que se analise a entrevista com o colega de classe dele, enquanto estudavam lá.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Discurso do Rei (2010)



Campeão de indicações ao Oscar e ainda conseguiu me surpreender. É um filme com estória simples. Trata do rei George VI (Collin Firth), que tinha sérios problemas de gagueira, que inicia tratamento, a pedido de sua mulher, com Lionel Logue (Geoffrey Rush), um fonoaudiólogo alternativo, que o trata e o faz desenvolver seus discursos.


Uma coisa que eu acho engraçada nos filmes ingleses é a humanização que eles fazem da família real. Eles tentam sempre colocar a família real com, o se tivessem uma vida absolutamente normal e simples como qualquer outra família de comercial de margarina. Papai, chamado de "papa", que conta estorinhas infantis pras criancinhas, cheias de mensagens de ética e amor. E a esposa dedicada e simples, que não se importa de tomar chá sozinha na casa de um civil, nem de falar normalmente com a esposa do Lionel. Cena ótima, mas Helena Boham Carter, também ótima, fazendo o papel da grande mulher por trás do grande homem. Do irmão de George que abdica do trono, por amor a uma americana adúltera. Outra coisa: ingleses não toleram muito americanos. Eles o colocam sempre abaixo.

Impressionante como a Helena, longe do Tim Burton, é muito melhor. Já é implicância minha com ele, admito. Odeio diretores superestimados e o Tim Burton consegue ser uma porcaria na minha visão. E ele involui a cada trabalho, o que o torna ainda mais irritante. Já ela, não, é uma ótima atriz. No filme, está um pouco caricata, lógico, mas mis pelo estereótipo de nobre inglesa, que propriamente por demérito dela.

Geoffrey é o melhor ator do filme, seguido bem de perto pelo Collin Firth. Ele só consegue curar as pessoas tornando-se íntimo delas, pondo-se de forma igual, um contraste com os médicos reais, cheios de referências e status. Firth fez um gago com traumas na infância, um homem que aceita sua falta de dom para o discurso, cuja gagueira incomoda quem assiste, no sentido de ser doloroso pra ele. Rush já faz o médico louco, carismático, bem articulado, desinibido que sabe se impor e torna-se amigo do rei, à medida que vai ganhando sua admiração. Chega até mesmo a saber de detalhes da vida pessoal do rei, dos traumas de infância, da relação com o irmão e o pai, do desespero dele diante da renúncia do irmão.

A cena final também é perfeita e comovente. Perfeitos o diretor Tom Hooper e o roteirista David Seidler. Não vejo como este filme poderia ser melhor.

O próximo filme que irei assistir será "O Vencedor" pra ver o porquê do Christian Bale ter tirado o Oscar do Rush.