quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Na faixa de Gaza

E a gente fecha o mês e o ano com os conflitos do Oriente Médio. E agora os dois povos que mais sofreram no século XX. Um que ganhou um Estado da ONU em reparação ao holocausto. O outro , que não tem terra, e reivindica a terra santa. E daí que se enquadram no status de minorias discriminadas, que sempre acham pré-legitimados seus atos de violência.

Faz muito tempo que a situação ali estava estável, mas a gente tem o problema das reivindicações das minorias, que nunca são satisfeitas. O que aconteceu ali foi só uma pausa. O conflito sempre houve e sempre haveria, se não fosse resolvido na força, ou se as ações das organizações internacionais fossem eficientes. E quando o Hamas assumiu, em 2007, juntando-se ao Fatah, derrubando a OLP do seu posto de influência, do carismático e finado Yasser Arafat, que já se sabia no que isso iria dar. E o conflito ali não é como o da India e as partes também não são iguais. Mas ambos tem a mesma natureza terrorista. Israel não quis resolver o problema, mas fez um acordo, mas foi com a OLP do Yasser, não foi com o Hamas. E o Hamas se acha no direito de começar suas reivindicações do zero e, como não é assim que a banda toca, que Israel é uma potência bélica e que o mundo não vai ficar do lado do mais fraco baderneiro. Aliás, Europa e EUA consideram o Hamas terrorista, mas a age como se houvesse alguma legitimidade. O que não há por sua natureza e por sua forma de atuação.

O que me incomoda é que, novamente, as coisas ficam associadas ao islâmismo. É um conflito político também. Eles reivindicam uma terra, mas não são povos escravizados. Não adianta mais panos quentes. E não é porque golias vai pra cima do Davi que signifique que este está certo ou que aquele seja um vilão.

A questão não é mais internacional - de ser problema da ONU- porque todos se abstiveram de agir em tempo hábil e não é porque Israel tem maior poder de destruição que signifique que a guerra é feia e o Hamas merece que lhe passem a mão na cabeça.


domingo, 28 de dezembro de 2008

Maybe someday in 2009. Há de ser!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Existem momentos em que a gente se questiona a respeito da persistência. Mais pela facilidade de se dar ouvidos ao que os outros falam sobre a gente do que propriamente tirar o foco do que se almeja. Principalmente quando não depende totalmente da gente. E concurso é isso. É algo que não vai só da competência e do esforço. Vai muito da sorte também. Eu diria que até mais da sorte. porque sempre existe alguém que se esforça, se sacrifica, mas não tem sorte. E sem ela, não passa. E o contrário também: o cara não fez por merecer, e, como quem não quer nada, faz a prova e passa. E passa bem, pra mostrar que todo seu esforço não é essencial. Que, com muito menos esforço, teve mais que você.

Esses últimos tempos têm sido uma experiência nesse sentido pra mim. Se, por um lado, ver quem não merece passar, dá a esperança de que "qualquer um pode, de fato", por outro , a gente não sabe a nossa hora, parece que não é pra gente. E isso acaba com a motivação. Não é fácil. Nem é inveja, porque dizer que alguém não merece é algo relativo, de valoração. Se dedicação e estudo fossem mais importantes que sorte, quem estudasse seriamente passaria. E os que não se esforçam é que passam antes e mais do que os que sacrificam tempo e vida social em prol do estudo.

E nisso, a gente pensa numa série de coisas: no vestibular, no que se deixou de fazer, na facilidade que a família tem de nos destruir psicologicamente porque estão sem marketing pros outros. Porque, diante de tudo isso, para os outros, somos todos vagabundos. Estudar até passar não é coisa de gente limitada, é de gente que se valoriza e quer resolver a vida. Porque para pagar suas contas e dar-lhe um emprego, ninguém se oferece.


"Console-se, é evidente:
um dia ainda vamos rir de tudo isto
histericamente"

Luis Fernando Veríssimo.



quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

1 década das Bodas de ouro dos direitos Humanos


Ontem, "Os Direitos Humanos" completaram 60 anos. Eu fiz um trabalho sobre isso na faculdade - um dos melhores trabalhos que eu já fiz. Estava no terceiro período e, desde esta época, comecei a ter uma opinião mais crítica a respeito deles. Eu penso que é uma forma de universalizar a justiça em termos de conteúdo. E, sob este ponto de vista, é utópico. e discriminante. A democracia tem a ver com o ocidente, com o capitalismo - ou neoliberalismo, como preferir-, mas que invalida o outro lado. É o que se diz: visa transformar o eles em nós; tudo num mesmo conjunto, criando um conceito de ética unilateral, mas dito como universal. E como o que se opõe à ética é violência, a associação do que não vive o contexto dos direitos humanos, será considerado manifestação de violência contra a humanidade. Com o islamismo é assim e com o comunismo também. Já comentei sobre isso, a relação ética-direito.

O contexto pós-segunda guerra era sofrível. Nunca se extrapolou tantos limites quanto naquele tempo. De todos os lados havia intolerância. A primeira impressão é do nazismo e do anti-semitismo, mas também existiu a bomba atômica. E isso foi o que desencadeou a frustrante tentativa de desarmar as potências. Durante todo esse tempo, existiu uma mídia em cima, uma tentativa de convencer a todos que direitos humanos existem, mas não passa de falácia. Existem direitos humanos pra quem "merece" tal tratamento. Não são universais, não são parte do ser humano - daí aquela filosofia de nato x inato- e, a todo momento, são ignorados pelo Estado, sobretudo na figura da polícia.

Tomamos os direitos individuais como fundamento da nossa constituição que os vê como direitos que fazem parte do homem, mas não são realidade num país como o nosso, onde se cumpre a pena e não é solto, existem torturas e condições abaixo do tolerável nas delegacias. Ou quando se tem prisão perpétua, pena de morte, naqueles que estão no mesmo lado que a gente.

É tudo uma hipocrisia. Um comercial, uma forma de ditar as regras e se sobrepor, como vencedores, como referencial, exemplo a ser seguido. Há muito que se discutir a respeito da fundamentação e aplicabilidade dos direitos humanos. O que está ali não se legitima apenas por boa intenção. É apenas uma forma de se pré-identificar como bem. E todo mundo (finge que) acredita.


domingo, 7 de dezembro de 2008

"Parente é serpente"


O gênero é comédia, humor negro dos bons, dos mais realistas. Baseado em uma história real, porque, qualquer dos personagens, alguém há de ter na família. A família tem a cunhada vagabunda, a criancinha gordinha que come compulsivamente e tem pais irresponsáveis, o marido que comeu a cunhada vagabunda, o irmão sozinho há anos que é gay no armário, a irmã hipocondríaca, o pai gagá e submisso com a mãe autoritária, etc.

É um filme de família italiana até a metade. Todos felizes, clima agradável , até que surge o interesse material, a cobiça e a vida dos pais que estão nas mãos dos filhos. A mãe, por causa da idade, sem condições de viver sozinha com o marido sugere aos filhos que os tenham em sua casa. Um filho, escolhido entre eles, cuidará dos dois. E isso é motivo pra que todos lancem seus podres e arquitetem um plano de se livrar dos velhos.

E uma coisa a se reparar é a efusividade das pessoas. Algo tão gratuito, sobretudo em final de ano, quando todo mundo acha que é tempo de superar as diferenças e viver em paz. Hipocrisia. Depois, começa tudo de novo, porque família é só um grupo de pessoas que se reúnem pra sempre e têm de se aturar pra sempre. E, pode crer, quando pensam na possibilidade de morte de alguém com bens, os bens viram alvos de interesse, a menos que tenham que cuidar de quem venha a precisar. E todos criticam quando podem, humilham-se uns aos outros. E há a obrigatoriedade de se relevar, porque é impossivel livrar-se deles.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008


Sobre o texto abaixo é fácil identificar a intenção do jornal e do autor do texto em quererem "desmitificar" o islâmismo, partindo de uma tragédia para conotações políticas, como se o atentado fosse uma busca muçulmana por representação no mundo.

Há sempre um objetivo de demonstrar que um país mulçumano é tribal, não tem direitos da mulher, não aceitam direitos os humanos, coisas que para os liberais é bem difícil de entender. E partir para uma valoração dos bens que eles consideram importantes , que não são necessariamente os mesmos que os nossos, é inútil. As pessoas não querem entender isso, querem que se diga que o ocidente venceu e que desde o atentado do dia 11 de setembro, terrorismo é coisa de mulçumano. Bem simplista e mesquinha essa visão. E bem mais fácil também, né? Associa-se fatos e cria-se uma lei. Essa é a lógica da ciência medíocre. E daqueles que querem fazer a associação ao eixo do mal que é mulçumano. E ,no caso da India, a pedra no sapato é a República Islâmica do Paquistão. Que coisa,não?

O terrorismo que existe entre India e Paquistão dura desde 1947. A área da Caxemira é sacudida por movimentos terroristas de ambos os lados e sempre houve conflitos ali. O domínio sobre a bomba atômica dos dois países se dá por isso. E não só na corrida armamentista, mas também na correspondência entre direito e religião em ambos os países. Tanto um como o outro têm em seus ordenamentos uma fundamentação religiosa e o povo é regido por normas desta natureza. Já houve guerras e a comunidade internacional vive botando panos quentes pra amenizar isso. Só que ambos são da ONU e uma intervenção armada não seria conveniente.

A questão é que sempre procuram desconstruir o islâmismo. Sempre com exemplos de "mulçumanos que deram certo nos EUA" , no caso um indiano que escreveu a coluna. E o ocidente sempre pensando que o diferente tem que ceder. Que o ocidente sem impõe como aquele de valores universalmente aceitos, ícone da ética, mas enxerga sempre "os atos dos outros" pelo ângulo acusador.

O fato de um grupo terrorista usar violência como forma de chamar a atenção da comunidade internacional e exigir o que acham ser de direito não torna ilegítima a reinvidicação paqueistanesa pelo território da Caxemira. Nem cria uma subdivisão de muçulmanos fundamentalistas, moderados e de direita. Não existe essa obrigação de se posicionar. Existe a de se evitar essa inversão metonímica, ou seja: tomar o todo pela parte (terrorista).

*Revival de um dos melhores posts que eu já escrevi. Sempre, o tópico referência.

Sobre os atentados na India

Encontrando o centro da Índia

KARAN MAHAJAN


EU CRESCI na Colônia de Amigos de Nova Déli, nome improvável de uma coleção de mansões fortificadas em que, a cada ano, as pessoas se conheciam menos.
O bairro foi erguido originalmente nos arredores de Déli, mas acabou sendo cercado pelo crescimento urbano do centro-sul da cidade. Em torno desse condomínio fechado de hindus ricos há um grupo de vilarejos com nomes como Zakir Nagar e Taimur Nagar, além dos prédios da famosa Universidade Jamia Millia Islamia: lugares ocupados por muçulmanos trabalhadores, comerciantes, operários e também professores e estudantes universitários -o tipo de lugar sob maior risco ante as reações enfurecidas após os ataques terroristas islâmicos desta semana.
Digo isso não apenas porque a vingança é algo estúpido e injusto, mas porque tenho a mentalidade do agressor hindu instruído e posso antever a forma que tais ataques tomariam. Cresci em meio aos valores pluralistas e "seculares" pregados nos livros de Educação Cívica usados em sala de aula e sou defensor firme do islã, mas tenho consciência de que não conheço muçulmanos e que minha atitude de esquerda pode ser facilmente modificada ou mesmo quebrada por fatos que me atinjam mais de perto, como os desta semana.
Como lido essencialmente com noções românticas de diversidade -de que nós, indianos, precisamos todos aprender a conviver uns com os outros-, ao mesmo tempo tendo crescido apenas com outros hindus de classe média como eu, atrás de portões que me separaram até mesmo de meus vizinhos islâmicos, posso trocar uma abstração (os muçulmanos como minoria explorada) por outra (os muçulmanos como fanáticos natos) com facilidade. Os muçulmanos que vivem em meu quintal podem, em minha cabeça, passar de trabalhadores a terroristas em um só segundo, se eu quiser.
A possibilidade de tal transformação em pessoas como eu me preocupa neste momento angustiante. Se eu, um indiano de grau de instrução superior que vive em Nova York, longe das vísceras e do pânico da violência, me sinto abalado pela chegada do terrorismo islâmico aos bairros mais elegantes de nossas cidades; e se eu, um esquerdista e livre-pensador, sinto a espécie de desconfiança em relação a muçulmanos que senti por um instante após a medonha quarta-feira, então estou certo de que o mesmo pode se aplicar a muitos e muitos outros esquerdistas em meu país.
E, se isso for verdade, então os muçulmanos da Índia estão numa posição em que a maioria de seus defensores obrigatórios na sociedade, mais notadamente na mídia, pode estar perdida.

Papel para a mídia
A imprensa liberal, sobretudo TVs e jornais em inglês, é criticada constantemente por ser "pró-muçulmana", mas tem atuado como corretivo necessário num país polarizado. O canal NDTV, com seus âncoras de Oxford, e a revista "Tehelka", com seus jornalistas investigativos cosmopolitas, destemidos e do contra -que escrevem romances afrancesados como atividade secundária-, reforçaram sua reputação ao expor o apoio nacionalista hindu ao governo que levou ao massacre de muçulmanos nos tumultos de Gujarat, em 2002.
Eles têm um viés de esquerda inegável. Mas também, em certo sentido, são comprometidos com noções de objetividade, conscientes e fartos de seus próprios vieses e, portanto, numa situação em que alguns de seus redatores podem pender para a direita por simples constrangimento -como pode seu apoio barulhento aos nobres muçulmanos ter levado a isto? O resultado de uma oscilação como essa seria devastador.
Quando a mídia e os jornais americanos de esquerda, induzidos a cobrar contas patrióticas na esteira do 11 de Setembro, primeiro decidiram apoiar a guerra no Afeganistão e depois no Iraque, eles inadvertidamente saudaram cinco anos de desastre. Se a mídia indiana da esquerda decidir não ficar de olho na maioria hindu enfurecida, vamos não só desperdiçar uma de nossas armas democráticas mais fortes -uma cultura jornalística cética- como também, possivelmente, agravar qualquer vingança que ocorra em casa contra muçulmanos. E, diferentemente dos americanos, que estão travando suas guerras longe de seu país, nós teremos que viver bem no meio de nossos fracassos como país.
A solução está na paciência, que deve parecer algo pouco razoável de se pregar, na esteira de uma série de explosões de bombas desde 1997 que perde só para a Guerra no Iraque em baixas. Mas é a única solução. Eu admirei a paciência de meus conterrâneos quando estive na Índia recentemente, em outubro. Admirei o taxista em Jaipur que me contou que os negócios estavam em baixa desde os atentados de maio, mas que as coisas ficariam bem porque as estradas estavam melhorando. Admirei o sacerdote irascível em Ahmedabad que exibiu seu santuário antes de fechá-lo mais cedo, por ordem do governo, nos dias potencialmente perigosos antes da festa de Diwali.
Admirei a calma vitrificada dos sobreviventes, na TV, de uma explosão num mercado de flores de Déli onde costumo parar a caminho da casa de minha avó. Homens, mulheres, crianças, policiais -todos estavam alertas, e, passando pelos bairros de Zakir Nagar e Taimur Nagar a caminho de casa, eu me senti grato por ninguém, até então, se sentir impelido a buscar vingança.
Agora, sem dúvida, terá início uma das maiores repressões ao terrorismo na história indiana, e ela envolverá todos nós, queiramos ou não. Para manter sua sanidade, as pessoas terão de ter fé nas ações de seu governo, o governo terá de ter fé em sua capacidade de sufocar o terrorismo sem incentivar tumultos liberadores de tensões, e sob o horror, será dever dos jornais ajudar essa fé sem perderem a fé em si mesmos.

O romancista KARAN MAHAJAN é o autor de "Family Planning" (sem tradução no Brasil). Este artigo foi distribuído pela Wilye Agency

Tradução de CLARA ALLAIN

*Publicado na folha neste domingo, dia 30-11.