sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Dúvida (Doubt)


É um filme que trata de duas modalidades de conduta ética: moral e religiosa. Daquilo que é para ser aceito sem ser contestado e daquilo que se impõe forçadamente sem que seja dada oportunidade de contra-argumentação.

O filme se passa em 1964, nos EUA, ano de eclosão de movimentos de minorias, pós-morte do presidente Kennedy. Ano em que o colégio religioso, administrado pela irmã Aloysius Beauvier( Merryl Streep), aceita seu primeiro aluno negro. Obviamente visto pelos demais alunos como um corpo estranho, não sofre discriminação ou violência por ser apadrinhado pelo padre Flynn (Philip Seymour Hoffman). Ele se torna coroinha do padre e é flagrado alcoolizado pela professora. Sobre este fato, começa a se desencandear um confronto entre Beauvier e Flynn que se sucede uma série de simbolismos: homem x mulher, subordinador x subordinado*, certo x errado. E, também, da intolerância por parte da irmã, uma vez que todo seu discurso parte da negação da manifestação do padre.

Há evidências e, embora sejam relativas, pesam enormemente para condená-lo previamente. Ele não pode se defender de forma inequívoca. Aí, tanto o telespectador quanto a professora do menino, irmã James (Amy Adams), ficam na dúvida. São fatos apenas. Por si só não dizem nada**. E existe a questão das personagens tomadas como referência. A mãe do menino que não se convence - ou finge que não- de que o padre abusa dele, mas também não se oporia a isso, uma vez que o próprio menino já sofria com a violência de todos os lados, desde o colégio anterior. Dentre as violências sofridas por ele dentro e fora de casa - pelo pai, que achava que o menino tinha tendências homossexuais-, ser violentado pelo padre seria a menor. Isto gera um repúdio e choque na freira.


Nos intervalos entre o confronto dos dois, há os sermões do padre, que também já é um corpo estranho dentro da igreja,por ser carismático, inovador. E o mais legal deles é o sobre fofoca, no qual é feita uma analogia. Fofoca tem como efeitos o mesmo que tentar catar as plumas levadas pelo vento de um travesseiro que se rasga do alto de um edifício. É impossível a reparação.

Mesmo com toda sua atuação moral - ética formado de conceitos individuais-, a irmã Beauvier não tem a certeza. Ela acredita que ele seja culpado, mas não se convence. Ela desconstrói a verdade do padre e o seu poder argumentativo***.

Streep e Seymour com excelentes atuações. Da mesma forma que Amy Adams e Viola Davis (mãe do menino)

*Algo ressaltado no filme, quanto a isso, se dá na posição do padre, como homem. Quando chega na mesa da sala da freira, que, no colégio, é a autoridade, ele se senta na cadeira dela - que fica inconformada- e pede para ser servido por ela., algo inquestionável sob o ponto de vista religioso, já que tal hierarquia se dá por normas religiosas. Só que, no debate, ela questiona, segundo seus valores morais, as normas religiosas. E década de 60 também foi o início do movimento beauvoriano social pró-mulher, o feminismo.

** A menos que você seja um empirista e tome fatos como leis. Neste caso, a freira agiu de forma certíssima. Valoração é algo que não existe no universo empírico. Presunção de inocência não tem conceituação.

*** Ela vence quando diz que procurou uma freira de outro lugar de onde o padre havia passado. E que ele havia saído pelos mesmos motivos, dizendo que se ele não se demitisse voluntariamente, ela prosseguiria até que saísse. Assim, ele pede a transferência.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Leitor (The Reader)


Não é dos melhores filmes de Kate Winslet, apesar de ter uma estória interessante, não é bem contada e tem erros primários. Um deles diz respeito à passagem de tempo. Ralph Fiennes interpreta o papel do menino na idade adulta e Kate praticamente só ganha cabelos brancos.

A estória se passa na Alemanha, na época da Segunda Guerra, e trata da "troca" entre um menino de 15 anos, Michael Berg. Ela, mais velha, o inicia sexualmente e ele lê alguns livros para ela. Daí o título do filme, o leitor, que é o que ele significa para ela. O motivo de ele ser o leitor é óbvio, mas é "o segredo " do filme, porque é um motivo de vergonha para ela. A pesonagem de Hanna Schmitiz, vivida pela Kate Winslet, vencedora do Oscar deste ano, é realmente interessante, uma pessoa que vive sozinha, de certa forma marginalizada por causa do tal segredo e constrói seus próprios valores, é solidária, ética, sensível ao menino - que se apaixona por ela por isso- tudo passado de forma romântica, leve em contraponto à segunda parte do filme, quando ela vai responder por crimes de guerra. Uma mudança brusca, repentina, que o espectador não entende porque não lhe é bem passada.

Aí, o Michael é vivido pelo Ralph Fienes, praticamente é outra pessoa. Formou-se em Direito, tornou-se promotor, questiona os valores sociais, a justiça, a má defesa que Hanna tem no Tribunal, porém, apenas como assistente, quando ele tem 18 anos. Aliás, como os jovens normalmente são: revolucionários passivos. E parece que assim ele fica pelo resto da vida. Depois que ela é condenada, ele pratica um gesto de carinho, recompensando o que um dia ela lhe fez, à distância, e ela, em agradecimento, começa a ter um sentido pra vida e tal.

O filme é fraco por ser mal conduzido, mas tem boas atuações. Kate salva o filme. É a personagem dela o mais interessante e o Michael jovem, vivido pelo ator David Kross, com 18 anos. Fiennes está razoável.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Internacionalmente, a Suiça sempre foi um país neutro. E sempre surgiram teorias de que não era bem assim, havia panos quentes por tratar-se de sede das principais organizações internacionais. Hoje, na onda de xenofobia que assola a Europa, nem ela escapa. Não pelo caso da brasileira que disse ter sido atacada por skinheads, mas pelo fato de que isso fez várias pessoas refletirem sobre o partido que prega a intolerância como ética. SVP é o nome dele.

A menina é advogada, bem nascida, bem estruturada na Suíça. Pode ser uma louca, pode ter forjado a estória pra ganhar dinheiro, pode ter sido um grande furo do jornalístico ou uma grande fraude que não deu certo. Ela está sob investigação. Há presunção de inocência. E há necessidade de não se levar em consideração uma parte da estória. Muito menos a polícia.

O que chama a atenção a este caso, pra mim, é o fato de como as minorias estão se impondo a partir da democracia. De como "verdades aparentes" são tomadas como regras e de como é conveniente o papel de minorias para certos grupos. E isto se dá por associação ao nazismo, à suástica, ao Hitler. E eu lembro todas aquelas teorias revisisonistas na cabeça, que tentam mostrar que alguém sempre tenta levar vantagem na história. E ser "o perseguido" sempre dá certo, porque sempre surgirão pessoas pra sustentá-lo no papel de vítima.

Ela poderia não estar grávida, não ter sido atacada, mas não muda o fato de existrem grupos que agiriam assim ou que muitas pessoas convenientemente se aproveitam deste tipo de situação. A imprensa é só um veículo amplificador.