Eu odeio o pensamento que defende leis punitivas como forma de conscientizar o ser humano. Como se o pensar respondesse a estímulos como reflexo condicionado. Negar a espontaneidade, a liberdade do pensamento e querer que o ser humano passe a agir a partir do medo da punição é um resquício da ditadura, da ética da violência educadora legitimada pelo Estado na nossa sociedade. Como se pudesse o Estado interferir na liberdade das pessoas de forma repressiva, em vez de educadora, quando a formação cultural do indivíduo é construída, não imposta. Você aceita as leis da físca, matemática, biologia, mas a sua conduta ética é construída a partir dos valores que você mesmo pondera.
Matar é reprovável e dá cadeia. Se você mata, você sabe que vai ser punido. Mas o animus de matar se sobrepõe, naquele contexto, às consequências. A punição existe porque a vida é indisponível e porque o Estado de Direito faz uma valoração entre o que motivou o homícidio, o direito da pessoa que foi morta e as consequências do crime para a vida de quem matou. Não é todo homicídio que vai ser punido. E justiça é a vinculação do direito à ética.
Quando eu falo de ética, eu falo do agir segundo o que lhe é ensinado. Do tópico referência. Do que é CONSTRUÍDO e não condicionado. Você passa a agir quando se conscientiza das suas ações. Quando você valora, põe ato e consequência na balança. Existe liberdade de agir, mas a consciência está a partir da educação do indivíduo, da forma como ele se percebe no meio social, e no que ele aprende com a vivência de suas próprias condutas. "Aprender a viver que é o viver mesmo"*. E você aprende quando erra, inclusive. O ser humano muda de pensamento, de postura e de forma de lidar. Ele muda de acordo com o contexto em que ele vive e uma ação sua em si não define ninguém.
Até aqui, eu falei de indivíduo, não falei de coletividade. Falei de ética individual, mas, de igual importância, existe a ética social, que é muito mais complexa e transindivivual. . Seja a coletividade representada por um chefe de Estado e seus parlamentares ou por líderes religiosos, o que há em comum é a construção do pensamento. A partir do afinamento de idéias. formula-se leis de comportamento que o indivíduo opta por agir. Lógico que o Estado abrange um espaço e uma complexidade muito maior que a de uma Igreja, por exemplo, mas nem por isso, ele é mais importante pra todas as pessoas. Você não pode chegar para um religioso e dizer a ele que o Estado é mais importante que Deus, que as leis e o ordenamento jurídico são mais importante que a Bíblia ou o Alcorão. Pra ele, não é, mas é claro que não se pode ter oposição direta de ambos os lados. O Estado, por exemplo, cede à obrigatoriedade do serviço militar, quando a religião não permite. Existe aí uma valoração. Uma igualdade.
A palavra mais importante para o Estado de Direito é a valoração. Condutas se relacionam a bens jurídicos, que são tudo aquilo que o Estado considera importante e deve ser preservado: vida, liberdade (de expressão, religiosa, de ir e vir), a dignidade da pessoa humana. Mas existe uma tão importante quanto que o Estado negligencia, que é a educação. É dela que se forma o pensamento do ator das condutas e se constrói o papel que o indivíduo exerce na sociedade, o que se entende por socialização.
A educação determina, primeiro, o cidadão que você é em relação ao Estado e aos outros iguais a você. Depois, ela vai dizer qual o seu papel no sistema social. Médicos, advogados, professores, são diferentes pela educação. Para a conduta de cada um, haverá leis especificas, que levam à construção da ética profissional que é aplicada e fiscalizada pelas entidades de representação profissional de cada classe. Um médico é um cidadão como qualquer outro, mas esta condição faz o Estado exigir dele condutas para com outros cidadãos que não exige de um advogado e vice-versa. Por isso, eles não são tratados em todos os casos como cidadãos comuns.
*Guimarães Rosa, em Grandes Sertões Veredas
Matar é reprovável e dá cadeia. Se você mata, você sabe que vai ser punido. Mas o animus de matar se sobrepõe, naquele contexto, às consequências. A punição existe porque a vida é indisponível e porque o Estado de Direito faz uma valoração entre o que motivou o homícidio, o direito da pessoa que foi morta e as consequências do crime para a vida de quem matou. Não é todo homicídio que vai ser punido. E justiça é a vinculação do direito à ética.
Quando eu falo de ética, eu falo do agir segundo o que lhe é ensinado. Do tópico referência. Do que é CONSTRUÍDO e não condicionado. Você passa a agir quando se conscientiza das suas ações. Quando você valora, põe ato e consequência na balança. Existe liberdade de agir, mas a consciência está a partir da educação do indivíduo, da forma como ele se percebe no meio social, e no que ele aprende com a vivência de suas próprias condutas. "Aprender a viver que é o viver mesmo"*. E você aprende quando erra, inclusive. O ser humano muda de pensamento, de postura e de forma de lidar. Ele muda de acordo com o contexto em que ele vive e uma ação sua em si não define ninguém.
Até aqui, eu falei de indivíduo, não falei de coletividade. Falei de ética individual, mas, de igual importância, existe a ética social, que é muito mais complexa e transindivivual. . Seja a coletividade representada por um chefe de Estado e seus parlamentares ou por líderes religiosos, o que há em comum é a construção do pensamento. A partir do afinamento de idéias. formula-se leis de comportamento que o indivíduo opta por agir. Lógico que o Estado abrange um espaço e uma complexidade muito maior que a de uma Igreja, por exemplo, mas nem por isso, ele é mais importante pra todas as pessoas. Você não pode chegar para um religioso e dizer a ele que o Estado é mais importante que Deus, que as leis e o ordenamento jurídico são mais importante que a Bíblia ou o Alcorão. Pra ele, não é, mas é claro que não se pode ter oposição direta de ambos os lados. O Estado, por exemplo, cede à obrigatoriedade do serviço militar, quando a religião não permite. Existe aí uma valoração. Uma igualdade.
A palavra mais importante para o Estado de Direito é a valoração. Condutas se relacionam a bens jurídicos, que são tudo aquilo que o Estado considera importante e deve ser preservado: vida, liberdade (de expressão, religiosa, de ir e vir), a dignidade da pessoa humana. Mas existe uma tão importante quanto que o Estado negligencia, que é a educação. É dela que se forma o pensamento do ator das condutas e se constrói o papel que o indivíduo exerce na sociedade, o que se entende por socialização.
A educação determina, primeiro, o cidadão que você é em relação ao Estado e aos outros iguais a você. Depois, ela vai dizer qual o seu papel no sistema social. Médicos, advogados, professores, são diferentes pela educação. Para a conduta de cada um, haverá leis especificas, que levam à construção da ética profissional que é aplicada e fiscalizada pelas entidades de representação profissional de cada classe. Um médico é um cidadão como qualquer outro, mas esta condição faz o Estado exigir dele condutas para com outros cidadãos que não exige de um advogado e vice-versa. Por isso, eles não são tratados em todos os casos como cidadãos comuns.
O problema da nossa sociedade hoje, é que as pessoas precisam se sentir diferenciadas, por uma questão de autodeterminação. A ética de atuação é a dos grupos sociais e eles acham lógico atuar a partir da demarcação de limites da liberdade. Pra política, é prato cheio. O erro da atuação dos grupos sociais é ser contraponto, se auto afirmando como minorias, na acepção de hipossuficientes, carentes de uma valoração postiva do Estado. Só que não existe a construção do pensamento dessas pessoas para as suas condutas. É o oposto: dos demais, dos quais eles se diferenciam, deve existir uma exigibilidade de conduta ética pelo Estado. E falam isso em nome da liberdade, ou seja, pra que a liberdade deles seja plena, é necessário que a dos outros seja limitada.
E, diante da impossibilidade da construção desse pensamento a partir da educação, o caminho mais fácil é o da penalização, vista sempre como punitiva, nunca educacional ou (res)socializadora. É inegável que é legitimação da violência impor pelo medo de ser punido., por ser oposição à valoração, o mais importante do Estado de Direito. Aliás, nem é ser Estado de Direito.
E, diante da impossibilidade da construção desse pensamento a partir da educação, o caminho mais fácil é o da penalização, vista sempre como punitiva, nunca educacional ou (res)socializadora. É inegável que é legitimação da violência impor pelo medo de ser punido., por ser oposição à valoração, o mais importante do Estado de Direito. Aliás, nem é ser Estado de Direito.
*Guimarães Rosa, em Grandes Sertões Veredas