sexta-feira, 11 de março de 2011

Cisne Negro (Black Swan)


Não sei dizer se foi pela expectativa, por esperar muito do Aronofsky e da Natalie Portman, mas não achei esse filme grande coisa,não. Nem o Oscar dela, pra falar a verdade. Ela merecia muito mais pela atuação em Closer do que neste filme. Natalie parece frágil, vunerável. É fácil pra ela ser a Nina, coisa que não seria pra Mila Kunis. Acho que o Aronofsky errou a mão e a Natalie que salva o filme.

Primeiro, achei o filme um tanto machista. A personagem da Nina é uma bailarina determinada, obsessiva, tecnicamente perfeita, que almeja o papel principal do Lago do Cisne. Ela é escolhida após resistir
às investidas do diretor do espetáculo, heterossexual, vivido pelo Vincent Cassel, que quer instigá-la a ser o cisne negro. Ser o que ela não é: sedutora, liberal, invejosa, sexualizada, impulsiva e auto-destrutiva. Uma mulher que despertasse desejo nos homens, sempre predisposta ao sexo. No filme, quem é assim, é a Beth, interpretada pela Winona Rider.

Existe sempre o clichê de que mulher que se dedica ao trabalho, menos aos relacionamentos, é sempre remprimida sexualmente. A imagem da mãe dela representa isso: clichê da mãe invejosa, fracassada que quer realizar seus sonhos através da filha, disciplinando e dominando suas condutas. Como se faltasse personalidade à personagem. Em algumas cenas, fica evidenciada a consciência que ela tinha do papel da mãe na sua carreira, como, por exemplo, na forma como ela reage ao bolo comemorativo por ter conseguido o papel, a briga das duas, quando ela joga na cara da mãe a culpa que ela gostaria que carregasse por ter fracassado. É evidente que a opção da Nina por não ter relacionamentos se liga com o fato de não querer ter o mesmo final que sua mãe teve: engravidar e terminar a carreira. E que o diretor do balé a viu muito mais como um desafio por ela não ter cedido facilmente aos seus desejos, como outras bailarinas fizeram.

Segundo, o filme é uma busca por características que não são da personalidade da personagem, o que a faz criar uma outra. E aí seguem as alucinações, o lesbianismo (mais um indício do machismo), a reificação da mulher. A forma como a Nina vê Lily é completamente distorcida e o que se vê durante o filme é essa desconstrução de personalidade. O que Nina quer, é provar que é uma bailarina perfeita, realizar um sonho, anulando-se por conta disso. O sexo sem pudores é sempre visto, partindo da mulher como algo negro, assim como a realização da arte por ela. E, no filme, é uma forma de torná-la mais interessante.

A personagem da Natalie, dirigida pelo Michael Nichols, foi muito mais perfeita que a Nina do Aronofsky. A Alice de 2004 conseguia ser os dois extremos de forma muito mais convincente, a ponto de as pessoas terem dúvidas a respeito de qual delas era a verdadeira. Fez os outros atores comerem poeira. Só que a dignidade que sobrava na Alice, falta a Nina, porque personagens principais de filmes do Aronofsky são sempre decadentes e auto-destrutivos. E a dupla personalidade, a esquizofrenia, as drogas são sempre inerentes à sua obra, como uso da câmera trêmula sobre os ombros. Partindo dos filmes anteriores, vemos o quanto há de exercício de estilo neste filme e do quanto a Natalie se faz o diferencial. O Oscar para ela representa o quanto do filme se deve a ela.

E as pessoas falam que é um filme do tipo "ame ou odeie". Eu digo que é um filme do Aronofsky de sempre com uma Natalie Portman de sempre. Ele, humanizando personagens bem sucedidos, a partir da desconstrução, e ela, roubando cenas dos outros atores.