quinta-feira, 30 de abril de 2009

Inferno (L'enfer)


É difícil, com esses dois filmes, associar à "Divina Comédia", a não ser pelos títulos. Não é como a trilogia das bandeiras. E "Inferno" é muito mais referente (quase uma homenagem) a Kieslowski. Ha várias cenas que lembramfilmes anteriores e do "Décálogo".

Inferno já trata do sofrimento, a partir de uma tragédia que se instala em uma família. O pai é flagrado com um aluno nú em sua sala pela filha do meio e sua mãe(esposa dele). Ela,então, o denuncia, ele tenta explicar às filhas,ainda muito jovens, mas não suporta o sofrimento, é impedido pela mulher e se suicida.

O reflexo de tudo isso é ausência da figura masculina na vida das filhas. A viúva nunca mais se casou. A filha mais velha se casa com um marido infiel que não a respeita e nem os próprios filhos, a do meio vai morar sozinha solteirona e a mais nova se apaixona e tem um caso com um professor da faculdade, pai de sua melhor amiga. As quatro têm dificuldades de demonstrar sentimentos. São fechadas, introspectivas e viveram uma vida sem sentido.

Aí, um dia a vida delas muda. A mais velha se separa do marido, depois de flagrá-lo num dos casos, a do meio encontra um homem a quem pressupõe estar apaixonado e a mais nova é abandonada grávida pelo professor e se convence de que ele não a ama e se propõe a esquecê-lo, deixando-o desesperado. Ele promete a ela abandonar a família, mas, logicamente, não cumpre.

E aí que uma revelação partida do homem, que é o menino no início do filme, que demonstra queo pai é onocente, que ele provocou a situação sentindo-se culpado por todos esses anos.

Inferno, ao contrário do paraíso, remete a dor, sofrimento, abandono, morte, injustiça, maus julgamentos, mas, sempre é ressaltada força do homem de superar todas as adversidades e reencontrar seu próprio caminho. As quatro mulheres se unem depois de saberem a verdade e se sentem aliviadas que tudo não passou de um mal entendido. As filhas se aproximam,. Só a mãe não se arrepende, certamente, porque foi movida por sentimentos de vingança. Não fica claro o destino delas. Talvez ,no terceiro filme, tal como na trilogia das cores, haja uma refência.

É difícil dizer qual dos dois filmes é melhor. "Paraíso" é mais lírico, onírico,"Inferno" mais pesado, mas a fotografia é linda. Há uma imagem no início de um passarinho que derruba os ovos. Instinto de competição, egoísmo, até mesmo contra a própria família. Havia mágoas entre as quatro. Estavam afastadas,talvez pela tragédia.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Heaven (Paraíso) e L’enfer’(Inferno)



O que os dois filmes têm em comum é a capacidade que o ser humano tem de transformar as coisas. E que, muitas vezes , grandes tragédias ocorrem pela falta de coragem de mudá-las, por si, ou pela inércia conveniente de quem deve agir.

Heaven trata da desilusão do ser humano. Os protagonistas chamam-se Phelippa e Felipo. Nomes iguais dados a pessoas iguais. Pessoas que se completam. Ele é o que ela buscava.


Phellippa presenciava tragédias vividas por adolescentes no colégio em que dava aula de inglês. Eles estavam morrendo por overdose e ela sabia quem era o traficante que levava as drogas até eles. Tentou, por diversas vezes, fazer o certo: avisar as autoridades (inertes) do que continuamente acontecia. Enviava cartas, fazia ligações e era simplesmente ignorada. Até que agiu por conta própria. Na tentativa de matar o “assassino”, instalando uma bomba em seu escritório,por acidente, quatro pessoas inocentes morrem e o traficante sai ileso. Ela é presa e confundida com uma terrorista. Aí ela conhece Felipo.

Felipo era o escrivão da polícia. Italiano que falava inglês, ele quem funciona como intérprete do depoimento dela. E decide ajudá-la porque seu irmão diz que ela era uma boa pessoa. Ele a ajuda escapar, a matar o traficante, E se apaixona por ela.

O que o filme propõe é a idéia de que o paraíso não é algo idealizado, num plano paralelo. Nem o inferno é. Phellippa era uma mulher desacreditada nas pessoas, na sociedade. Não acreditava mais na justiça, no bom senso, no amor, até conhecer Felipo. Ela se viu na obrigação de fazer justiça . Mesma coragem que Felipo tem de ajudá-la. Ela, pelos alunos, e ele, por ela. Eles têm pouco tempo pra viver o amor porque são perseguidos pela polícia e, durante a fuga, é que vão passando pessoas que fazem parte deste paraíso: para ele, o pai e o irmão e, para ela, uma amiga. Solidariedade. Sempre há alguém por nós.Todo o enredo inicial fica pra trás. Não é discutido se eles deveriam ou não responderem pelo que fizeram, mas do quanto gestos simples e pessoas que ficam ao nosso lado são ignorados e do quanto ficamos inertes aguardando algo maravilhoso. Inércia é ausência de coragem e visão. E isso que o filme propõe: quando você percebe o que existe a sua volta, quando você tem coragem pra mudar o que você vê de errado e quando você encontra alguém que faça algo por você,você encontra o paraíso.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Os Miseráveis ( Les Miserables)

Victor Hugo foi um poeta, escritor e ativista político que viveu durante quase todo século XIX na França. Tinha espírito democrata e isso fica bem demonstrado no filme, no personagem do Marius.

O filme se passa entre o final do século XVIII e século XIX e trata de críticas a todo lado da sociedade: miséria do povo, a desproporcionalidade das penas, a crítica ao sistema e valores sociais vista do ângulo do opressor e do oprimido. Em duas horas, o filme conta muito bem a estória e é muito rico.

Jean Valdjean foi condenado a 20 anos de prisão por furto de pão e fugiu durante sua condicional. Nas ruas, na miséria, bateu na porta de um frei que lhe deu comida, cama para passar a noite. O tratamento dado a Valdjean o coisificou. Ele já não tinha mais dignidade, perspectivas e o único tratamento esperado dele era o de um galé, ex presidiário, um pária, marginal. Por uma atitude extremada e justificável, tornou-se para sempre alguém indigno do convívio social. Embora, tenha o agredido, furtado-lhe talheres de prata, quando a polícia o captura, o frei não o denuncia, diz que foi presente e o "ladrão" é solto. Aí é que entra a ética religiosa. Perante Deus, somos todos iguais, o frei "compra" a alma de Valdjean e o devolve a Deus. De quem se esperava a posição de acusador, de violência, veio o perdão, o voto de confiança. E a partir daí, surge um novo homem.

Inicia-se a segunda fase, Valdjean torna-se um rico, com documentos falsos, mas trabalha, restaura sua dignidade perante a sociedade e é caridoso com os necessitados. Não é reconhecido por ninguém e conhece uma prostituta, Fantine, a quem dá abrigo. Ela tem uma filha. Ao mesmo tempo, um novo chefe de polícia, Javert, ex guarda da prisão onde Valjean cumpriu pena, é nomeado. Ele o reconhece e inicia um recenseamento para pegá-lo. Não consegue,mas inicia um processo policial de investigação que é inconclusivo até que um inocente é preso e confundido com Valdjean. Ele vai ao tribunal, perante todos assume sua verdadeira identidade e passa a ser perseguido pela polícia. Fica por 10 anos num convento onde cuida da filha de Fantine, Colsette. É o isolamento dele da sociedade.

A terceira fase é a libertação. Colsette se apaixona porMarius, um libertério republicano que se envolve numa guerrilha. Ela, com os encontros, expõe Valdjean de forma que ele tem que contar-lhe quem é, e acaba sendo descoberto por Javert. E retorna a perseguição e as provações de que é um novo homem. O próprio chefe de polícia passa a questionar o sistema quando se depara com tamanha humanidade e eprdão vindos de Valdjean.

E é isso que o filme provoca: a discussão dos antagonismos: entre a marginalidade dos defensores da lei e a dos criminosos, do povo x governo, povo x nobreza. E que há nobreza nos sentimentos de todas as pessoas, cabendo a elas próprias transformar o mau, que gera a violência, em bom, que gera a nobreza. Jean cresceu por diversas vezes pela nobreza de seus sentimentos.

sábado, 4 de abril de 2009

"A História de David Gale"


O filme trata da pena de morte. No Texas, que é estado conservador americano. E todo o filme é uma metáfora da história de Sócrates: confrontar o sistema, questionar, debater, criticar, tentar mudar as pessoas, mas sendo o mesmo revoltado pacifista e passivo de sempre. Não se confronta o sitema com questionamentos morais, como Sócrates fazia, porque nada é mais simplista que a moral. E enxergar a sociedade por conceitos próprios pode ter sido coisa da antiguidade, não tem mais sentido hoje.


David Gale é o Sócrates contemporâneo, um homem contrário à pena de morte e ativista. Ele está condenado à morte por ter supostamente assassinado uma amiga. Lógico que ele é inocente e, no filme, ele cita passagens da história do Sócrates porque ele se identifica. com ela. E filme americano que se preze, tem que verbalizar pra ser entendido, por mais óbvio que seja.


Kate Winslet faz uma jornalista que ele convida para contar sobre sua vida, crimes, etc. Ela muda o olhar e questiona, como ele achava que devia ser feito, manipulada. De forma que, de acordo com as informações que ele fosse soltando se convencesse de que ele era inocente e do quão absurda é a pena de morte. A verdade absoluta é a do David, o messias da atualidade. A forma de atuação dele é pelo método socrático. O governo é sofista,- representado pelo governador e pela Justiça- . Ele representa a bondade da alma humana.


A jornalista vai recebendo informações, via vídeo, do "assassinato", ela vai descobrindo e investigando o que aconteceu. É um assassinato planejado, de forma a incriminar o David Gale e chocar a sociedade. A amiga foi morta da seguinte forma: com as mãos presas por algemas nas costas, foi posto um saco plástico na cabeça, amarrado com fita e com a chave dentro de seu estômago. Tudo filmado.


David Gale é condenado, contrata o pior advogado para defendê-lo, de forma a, propositalmente, não se beneficiar pela justiça, o que incluiria um direito a alternância de penas,ou seja: em vez de pena de morte,prisão perpétua. Ele quer ser condenado. Ser visto como culpado. A sociedade já o renegava por ter sido acusado pelo estupro de uma aluna - por vingança dela- que retira a acusação, mas todos acham que o advogado dele é que foi competente. As pessoas acusam e condenam sem que haja uma defesa. E de professor universitário conceituado, vira gerente de lanchonete. A sua utilidade agora é modificar o pensamento da sociedade a partir do seu drama.

O filme consegue o que se propõe. A forma como é feito é que é forçada. Não tem lógica o questionamento do Gale, porque ele é parcial. Você não provoca questionamento nas pessoas, se você não tenta apontar falhas no sistema usando o próprio sistema. Gale comete o crime de Suicídio, pelo art. 122 do CP. Ele auxilia, induz. Não é inocente. Ele apenas quis tornar-se mártir. Repetir o erro de Sócrates: o acusado.


E Sócrates, sabemos bem, é mais um exemplo didático do que propriamente um homem porque há dúvidas sobre sua existência.