quarta-feira, 30 de abril de 2008

Civilização e barbárie

Uma vez, eu li um texto do Sérgio Paulo Rouanet onde ele tratava da diferenciação, feita ao longo dos tempos, entre civilização e barbárie. Os gregos, por exemplo, consideravam bárbaros aqueles que não falavam grego; as metróples levavam a civilização para as colônias. No contexto atual, seriam aqueles que não fazem parte da sociedade. O contrário de civilizado. Mas o que seria o civilizado? Isso que o Rouanet enfrenta: o novo significado que o termo civilização adquiriu.

Dentro de um contexto lógico da nossa sociedade, que se fundamenta na defesa do respeito ao ser humano, tendo os “direitos humanos” como fundamentais, aquilo que se opõe a estes direitos se traduz como bárbaro. Ao que é bárbaro, será sinônimo, o não ético, o violento. Só que, por muitas situações, a própria sociedade quer fazer valer o contrário do que é fundamental, legitimando como certo aquilo que o conceito de civilização não tolera.

Vejamos um exemplo: o caso Isabella. Uma menina de 5 anos que foi assassinada brutalmente. De forma bárbara. Os indícios são levados, pela imprensa e pela acusação, ao pai e à madrasta. São levados mesmo, direcionados, manipulados, tendencionados. E a conseqüência disso é o quê? A barbarização pela sociedade, as ameaças de linchamento, de desrespeito, de condenação sem julgamento. E o respeito ao ser humano? Não existe. E a lei ? Não se faz valer. Uma criança perdeu seu direito á vida. Em contrapartida, um casal – suspeito- e uma família inteira pagaram com o desrespeito à sua dignidade, direito de defesa, contraditório, presunção de inocência, liberdade, integridade física- ameaçada-, todos direitos que visam preservar o ser humano. Uma barbárie estimulada pelo próprio Estado, na figura dos delegados e do promotor, e, principalmente, pela imprensa.

O art 5ºda CRFB é enorme. Ali estão todos os direitos fundamentais listados em incisos. Tratados em igual hierarquia. Direitos são iguais, mas as pessoas se diferenciam. Alguns falam que esse caso teve tal repercussão porque era uma menina branca de classe média. Socialmente, a classe média – por ser detentora dos certificados de ensino superior e ter os melhores empregos- é vista como representantes da civilização. A classe pobre, a barbárie. Criou-se uma regra imbecil, na qual , do pobre, se espera a falta de civilidade. Se ela, então, vier da classe média ou alta, será chocante.

Para os bárbaros, a imprensa e as autoriedades (coatoras), o pai e a madrasta, ainda que sem provas irrefutáveis, têm que pagar pela violência sofrida por inúmeras crianças até hoje de forma simbólica. Mesmo injustamente. Porque não há como punir o Estado, acabar com o problema, e a violência, embora inerente ao ser humano, deveria ser contida pela lei e pela ética. E ética se aprende com uma boa educação e com senso crítico, e a nossa sociedade não os tem.

Eu, sinceramente, torço para que ambos sejam inocentes e absolvidos, em conseqüência, pra fazer valer o que eu aprendi. Ou condenados mediante todo um julgamento e comprovação absolutos. Pra que o ser humano entenda que, acima dele, existe lei, ética. Que a condição para existir respeito ao ser humano, é ser humano. E não condenados simplesmente por serem vistos como nascidos em berço de ouro, privilegiados, que terão que pagar pela redenção dos que sofrem pela violência. Pela barbárie. A existência da violência não se justifica. É a negação da civilidade.

terça-feira, 29 de abril de 2008

2008 é o ano do centenário de morte do Machado de Assis. E eu fiz prova domingo que, em vários textos, estava tentando lembrar isso: dia 29 de setembro de1908, faleceu o maior escritor brasileiro de todos os tempos, autor de "Dom Casmurro". Acho uma injustiça tremenda ele ficar conhecido por um livro que é um dos mais chatos que eu já li e que não reflete muito a ironia que ele tinha nos contos. Caiu trecho dele, e do "Miss Dollar". Este sim, ótimo.

Na prova, foram quatro textos: dois sobre Machado e dois escritos por ele. E mais cinco sobre outros temas explorados em quarenta, sendo um total de 90, questões. Então, já dá pra sair morto. E algumas pessoas ainda fizeram outra prova no mesmo dia. Sacrificaram uma delas, lógico. Quanto à prova, não há muito o que dizer, mas, no final, eu estava saindo por um dos portões e um vizinho meu saindo de carro. Foi uma das melhores caronas da minha vida. Das poucas que me deram. Nem acreditei. Espero que essa sorte tenha se refletido na prova, que era aonde eu mais precisava.

O engraçado é que, há um século atrás, havia palavras que hoje caíram em desuso, assim como determinadas construções. E, quando você faz uma prova, o examinador exige de você que saiba essas palavras. E até o sentido pode estar comprometido, se você não souber. "E antes seja olvido que confusão" é um caso. Olvido quer dizer esquecido, deslembrado. você acha depois no dicionário, até entende no contexto, mas quando se depara com essa palavra, você diz: "hã?". Estranhamento por ser uma palavra em desuso, por achar que é português antigo e a pergunta: "será que naquela época, o povão sabia o significado?".

Machado era um ótimo escritor. Fundador da Academia Brasileira de Letras e, obviamente, elitista. Por isso, é tão lembrado. Porque escritores tão bons, porém, mais populares, não tiveram o mesmo reconhecimento. João Cabral de Mello Neto, por exemplo, morreu bem recentemente e sua "Morte e vida Severina" não tem o mesmo reconhecimento do chato "Dom Casmurro". Talvez, porque a maioria das pessoas entende o Severino, e não a Capitu. Foda-se, então, os "olhos de ressaca", por ter sido feito pra não ser entendido.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Outra


Assisti a um filme neste fim de semana. "A outra" é um filme histórico sobre a mãe da Elzabeth I. Esta, já conhemos e é vivida hoje pela Cate Blanchet. Aliás, "Elizabeth" é uma trilogia. E eu achando que pegaram a Cate porque gostaram dela no primeiro e, do nada, resolveram fazer um segundo. Vai ver por isso, ainda ela não ganhou o Oscar. Deve ganhar pelo terceiro, pelo conjunto da obra. Tem dessas cafonices. Mas, enfim, o assunto é outro. Gostei bastante do filme e das atuações. Muito bem feito e tem ligação com a série "Elizabeth". E é uma parte muito interessante da História da Inglaterra, com personagens fortes.

A Ana Bolena (Natalie) foi escalada pelo pai, pra "divertir" o rei, mas sua irmã Mary(Scarlett Johanssen) - casada- foi em seu lugar por ter sido mais do agrado dele. Tudo isso muito bem socialmente aceito. A estória passa exatamente a submissão das amantes, dos filhos bastardos, que não significavam nada, da humilhação da rainha traída que não conseguia dar herdeiros varões ao rei e a Ana Bolena. No filme, tratada como uma mulher a frente do seu tempo, que sabia o que queria e que tem o rei na mão. Ele rompeu com a igreja, fundando o anglicanismo só pra casar-se com ela. Durou pouco, ela é condenada à morte por bruxaria e incesto, invenções do rei Henrique VIII, mas lhe dá Elizabeth. E aí, o momento mais interessante da historia inglesa pré - revolução industrial.

É engraçado assistir a um filme sabendo o final,mas é igualmente interessante visualizar, e até entender, determinadas atitudes, sob os olhos do diretor. Uma versão humana dada a fatos históricos.

O melhor filme da Natalie, pra mim, continua sendo Closer, mas ela é a personagem central nesse filme. O melhor papel sem dúvida. E como aqui no Brasil, não se incentiva esse tipo de filme, vale muito á pena conferir

sábado, 26 de abril de 2008

Estava discutindo com uma socióloga sobre educação. E eu, advogado, como qualquer estudante de direito, tenho aquela visão "ser" e "deve ser" e, o sociólogo, só o "ser", porque ele pára no meio do caminho mesmo. Ele, pragmático, e você, idealista. Ele fala que o problema é a diferença de certificados de ensino superior e você explica que não, que se trata de uma conseqüência da diferenciação do segundo grau. E ele, então, fala que você está deslocando o problema para o segundo grau. Que ensino superior dá um up na vida do indivíduo e é fundamental para ascensão social.

Bem, fundamental, não é. Acabou se tornando. Logicamente, que esse "boom" de universidades particulares contribui pra isso. E, o responsável por ele, é um sociólogo. E, hoje, sei que dói muito fazer um concurso onde a diferença entre segundo grau e ensino superior é de 600 reais. E ter ensino superior deveria ser uma opção, por representar uma profissão, e não algo do tipo
"qualquer um serve".

O que dificulta a discussão é a diferença de tratamento que as ciências dão a ela. Se é flagrante, pra mim, a importância do acesso à educação no ensino médio, pra socióloga, o importante é abrir as portas da classe média e universalizar os diplomas. E o governo também acha isso, mas por conveniência - não o princípio da Administração-. E as minorias, as Ongs, os partidos e muitos universitários, pelo interesse numa solução imediatista.

E você fecha na diferença entre ser pragmático e ser idealista. Ser idealista é o certo e, pragmático, o fácil. O "problema" é só um termo que você vai movimentando entre as vírgulas da sua argumentação. Porque o discurso em si não vai na falta de um direito, num problema social, mas numa emenda que você faz pra seguir o "fluxo". Pra eles, né?

E o Tibete,hein?

Clarividente, o assunto já está manjado. Aproveitaram agora, que a tocha olímpica está perâmbulando pelo mundo, pra destacarem "as manifestações". Logicamente, ilegítimas e oportunistas e querendo chamar a atenção do mundo à defesa de uma causa que nem, (de longe) é reflexo de injustiça. Quando "O Mundo" olha o Tibete, olha o Dalai Lama e olha "o Budismo", a religião da moda. Assim, a manifestação carrega aquele tom "Marahtma Ghandi", de manifestação zen, pacífica, de greve de fome. Não é. Ainda que com trilha da Bjork.

E aí que ninguém compra notícia que fale mal do budismo e tire a cara de paz do Dalai Lama. E ninguém associa a imagem dele às mortes de chineses no Tibete. E nem que essa invasão da China talvez seja pelo desrespeito, primeiro, do Tibete - que pertence a ela-. Depois que baixa a poeira do estardalhaço , as verdades vão aparecendo.

Não é da nossa conta que a China seja comunista, ou que, antes da tomada do Tibete, ali existia a mais completa miséria. E que há um interesse financeiro e de exploração da fé evidente nessa "liberdade" tibetana, e, que os monges tibetanos fazem crueldades com chineses, depois posam de bonzinhos. Não nos interessa, mas, aproveitar-se de um momento das olímpiadas, que tem outra vibe, outra conotação, pra fazer justamente o contrário, e promover interesses políticos, aí foge à razoabilidade. Porque parte para o desrespeito (a tudo). E um boicote seria ainda mais imbecil.

A Revista Época de 14-04 tem uma explicação pra isso. Acho que, na Folha , também saiu. E eles embasam bem o motivo, momento histórico e o que há por trás disso. Pode até ser que seja mais um pró-olimpíadas, anti-Tibete, do que fato jornalístico imparcial. Mas mesmo assim, tira qualquer caráter pacífico do Tibete e "a injustiça" que estão querendo atribuir à relação da China com eles.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"We're gonna rise"


Já não é mais novidade:o melhor cd acústico que eu já escutei na vida é do Pixies, "Acoustic Live Newport", de 2005. Mas, aproveitando, indico também, o The Breethers -esse sim, é novidade-, "Mountain Battles", 2008. Pra não parecer que descobri algo depois que acabou e estou fazendo homenagem póstuma.

Eu já cometi a besteira de dizer que eu não gostava dos Pixies. A minha pena vai ser ter que me lembrar disso pro resto da vida. A gente muda mesmo.E reconheço que Frank Black e Kim Deal são sensacionais. Ela é a melhor segunda voz que ele poderia ter, as músicas que ela canta no Pixies e no Breethers têm letras interessantíssimas.Eu sou maluco por essa mulher!E eu escuto "We're gonna rise", a toda hora, porque essa música me diz algo.

Fica aí, a primeira dica.