sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pai e Filho


É um dos filmes mais reflexivos que eu já assisti. E um dos mais bonitos também. É desses que o diretor, quando vai aos festivais, observa as pessoas torcerem o nariz por coisas primárias. Exatamente da mesma formaque ele retrata no filme.

Os dois aí em cima são o pai e o filho no filme. Eles têm quase 20 anos de diferença. E vivem juntos desde que a mãe do menino morreu, quase isolados, tão próximos, onde apenas uma pessoa consegue alcançá-los: Sasha, vizinho de porta. Vivem num sótão no alto de um prédio no alto de uma cidade. Do telhado, eles vêem o mar, a cidade, brincam numa ripa que une o apartamento deles com o telhado de outro prédio onde eles jogam bola. No filme, eles são metaforizados como amor acima das pessoas. Amor próximo do divino. E se tem isso com o sol crepuscular que dá o tom acobreado da tela e que ilumina a casa deles, as cenas externas. A ripa é o que os tira do mundo deles e os aproxima do céu.

E o amor deles é mal visto pelas pessoas de fora. Elas insinuam uma relação homossexual porque o amor que um tem pelo outro está acima de qualquer coisa,* inclusive no caso de uma namorada, um emprego que melhore a vida, etc. E isso é estranho para a maioria das pessoas. O filho sabe que o pai tem um câncer nos pulmões, mas esconde isso, e o pai não só percebe que há algo errado, como tenta não ser um empecilho para a vida do filho. Da mesma forma que o filho vai crescendo e amadurecendo para enfrentar o mundo sozinho, o pai quer que ele siga em frente, não quer ser visto como um estorvo, embora desejasse participar dos planos dele. E isso é visto pelos pesadelos e dos bons sonhos do filho e quando o pai pergunta: "Eu estou neles?" e o filho nega.

E é isso que é o amor, o objeto da conduta é a pessoa que se ama. Tudo do pai envolve o filho e vice-versa. E a solidão, as situações modificaram o pai, um ex combatente, alto escalão a tomar atitudes submissas, como se fosse frágil em relação ao filho.Ele acaba se tornando dependente e os dois, em algumas situações, invertem as posições. Ele quem cuida do filho, e, com isso, acaba esquecendo de si mesmo. Com a idade atual do filho, ele assumiu responsabilidades, seguiu carreira no exército que o filho escolheu porque queria ser como o pai.

No final do filme, o pai se dá conta da solidão. De que o filho vai ter que seguir sua própria vida e que terá que sonhar e ter planos sozinho.



Diretor : Alecksander Sokurov
Ano: 2003

* O pai pressente que não vai durar muito tempo e que o filho tenta ver as coisas de forma positiva. Ele sabe que o filho não o deixa por causa da doença.

** A sociedade sempre toma como maior o amor dos pais pelos filhos. E o filme trata de um amor universal. Na cessão de uma das partes(o pai do emprego, o filho, da namorada)em prol da outrae por serem iguais, de fora, a relação é distorcida.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Quando eu ainda estava na faculdade, a maioridade penal passou dos 21 para os 18. As pessoas, obviamente, baseadas em fatos isolados e/ou estatísticos da violência, pressionaram o Congresso e houve aprovação. Mas aí, houve a morte do menino João Hélio e depois a da Isabela. Aí não só a pena de morte virou foco, como nova redução da maioridade penal. Isto porque um dos envolvidos tinha 16 anos e só ficaria 3 anos numa instituição educaconal.

E pra quem estava comemorando os 75% de aplicação de penas alternativa na Justiça, a progressão de pena de crimes hediondos como avanço, toma logo um balde de água fria e lembra que quem está ali no Congresso entende de política e marketing pessoal e não de Direito. A população não entende, Ok, mas o poder legislativo deveria entender. A pena de morte não me preocupa por razões óbvias, mas a redução da maioridade e as penas mais duras sim.

E daí que o Crivela resolveu defender a razoabilidade da esterilização química de agressores sexuais. E defende isso com um "apesar de causar diabete, descompensação hormonal, aumento desordenado da testosterona...", é adequado. Impede definitiva e irreversivelmente a função sexual. E para o senador, isso é justo. E irônico que o ECA de 92, veio justamente ressalvar a inocência das adolescentes. Relativizar de certa forma não o crime em si, mas a presunção de violência.

Esses exemplos são de caráter excludente. Objetivam afastamento do indivíduo. Extrapolam o caráter punitivo e anulam o educativo e o ressocializador. As pessoas não entendem simplesmente que o objetivo é evoluir até a extinção da pena.

E sobre o caso do João Hélio, eu tenho um professor, que é PGJ. Ele trabalhou no caso joão hélio e disse que era comovente o depoimento da mãe, que houve decaptação, ele comentou das fotos, etc. Disse que era absurdo a defesa dizer que houve só roubo, já que eles intencionalmente arrastaram o corpo do menino do meio fio. E, logicamente, todo mundo se comove. E a comoção se transforma em ódio e todo o sentido do mundo de dizer que a vida deles vale nada, melhor ser excluído da sociedade. Pra todo mundo. Sério isso! Ninguém, ali era uma turma de estudantes de Direito, pensou na defesa (achei genial), que, talvez, eles não tivessem visto o menino, que queriam só roubar. Tentaram desgarrar porque pensavam que ele estivesse morto. Afinal, a mãe saiu do carro, sau a filha e o filho pro lado de fora.

Defender direitos humanos, penas mais brandas, Direito Penal Minimo, não é passar a mão da cabeça. Ninguém que defende isso acima sabe o que é passar pelas punições. Sabe o que é ressocializar, o que é representar perigo pra sociedade.

Se uma pessoa opta por ser traficantee viver até os 30 no máximo ,correndo risco dentro da própria quadrilha, não vai ter medo da polícia. Se ela toma como certo o baixo valor da vida dela em relação à dos outros, não há punição dura o suficiente que a impeça de delinquir. E todo mundo continuará com medo. Aliás, é bem isso: não é mais de ser humano que se fala, é de violência, do fumo, racismo, pedofilia. Tamanha a incorporação dos dados estatísticos, não se fala mais em criminologia, mas em estatíticas da violências. Bem empirista o negócio. Direitos individuais não são levados em conta.

Aí você conclui que não vai fazer diferença. que quando a pessoa fala em violência, em racismo,em fumo ela está falando de abstração. Só que que isso vai virar lei e lei disciplina o fato concreto. E não se fala, então, justiça ou de punição, fala-se em dar satisfação a quem está insatisfeitos. Dar impressão de que algo está sendo feito.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Lei Antifumo

Existem duas leis que tratam do fumo no país: Lei Federal 9.294/96 e a Lei Municipal 13805/2008 (capital de São Paulo). E, em 2009, surgiu a Lei 13541, do, José Serra, que trata da discriminação do fumante. Só se pode fumar na rua, tabacarias, varandas,etc.Restaurantes e demais locais públicos não podem mais ter áreas de fumantes e, se alguém for pego pela fiscalização estadual fumando nestes lugares, o estabelecimento pagárá multa de R$750,00 a R$3 milhões. A lei manda que o dono do estabelecimento faça o fumante parar, devendo chamar a polícia. A prisão dar-se-ía pelo desacato à autoridade. Parece a contravenção de vadiagem.

Na ADI 4239,proposta pela Abrasel, eles questionam a violação da liberdades dos fumantes, da livre incitativa, forçam uma inconstitucionalidade formal, visto que há competência concorrente e a lei estadual ultrapassa isso ao se confrontar com outra lei federal anterior. A ministra Ellen Gracie, obviamente, negou porque não criticaram especificamente e fundados em artigos da lei com a CRFB. Criticaram na generalidade. Tratar da liberdade dos fumantes é tratar de direito abstrato. Não é liberdade de fumar, é discriminação e contrangimento de alguém que fuma. Ainda mais em local que vende cigarro.

Não vi a menção à
dignidade da pessoa humana, que é princípio constitucional. Imagina no caso do dono do bar ser obrigado pela lei a chamar a polícia pra mandar o fumante parar de fumar o cigarro que ele vende! Se há entendimento que a lei da vadiagem é absurda, quem dirá esta lei.

Fumar é socialmente aceito. A mídia e o governo querem mudar isso e vão contra o fumo, porque não podem ir direto contra quem fuma. A argumentação do fumante passivo é pra poder justificar a intervenção em direito individual. Saúde é função do Estado, então, qualquer intervenção em direito individual seria legítima. O cigarro incomoda, mas daí a dizer que o fumante passivo incorre nos mesmos riscos que o fumante é absurdo. Ele não tem nocotina, nem polvora, nem amônia, veneno pra rato, etc. no corpo, porque o cigarro é perigoso por isso. Daí , o fumante não pode processar a indústria de cigarro porque ele consome milhares de substãncias tóxicas quando ele só quer o tabaco.

A Ellen Gracie teve que rejeitar porque não a ADI não foi fundamentada corretamente. Ela rejeitu se baseando no regimento interno do STF (art 21§1ºdo RISTF).




segunda-feira, 11 de maio de 2009

Gran Torino


"Gran Torino" é um filme que trata do preconceito e do racismo americano. É uma boa demonstração de como os americanos vêem sua cultura diante das outras. Trata do sonho americano, do "lifestyle" ideal, das oportunidades que povos de outras culturas buscam nos EUA e do quanto isso incomoda os próprios americanos.

A personagem de Clint,Walt Kowalski, é de um americano típico: idoso, lutou na guerra do Vietnã, tem um carro clássico da Ford. É amargurado, teve um passado ruim, de sofrimento e a vida o fez intolerante com as pessoas. Ele não as entende, exceto a mulher. E o filme começa com o velório dela, quando os filhos tentam uma aproximação interessada. Ele sofre de um tipo de doença,talvez câncer, em estágio avançado. E, também, é vizinho de um grupo Hmong (asiáticos, de origem chinesa ou vietnamita). É uma família cujos jovens integram uma gang. As mulheres fazem tarefas domésticas e os homens se perdem. E, dentro desse universo, há um menino: Thao. Ele renega seu destino e está num dilema que é fazer oque ele quer ou seguir os caminhos que os homens de sua família seguem.

O mais importante é ver o quanto a intolerância é algo velho, inexplicável e do quanto todos aprendem a superá-la e a se firmarem perante os demais. Walt viveu uma vida triste, fez escolhas erradas, foi induzido a matar na guerra e isto o fechou perante o mundo. A única pessoa que o tinha era a mulher. As pessoas tinham uma idéia do que ele aparentava. Ele não era aquilo, mas tornou-se assim. A maioria das pessoas tomam pra si aquilo que lhes é mais conveniente. Ele errou por se distanciar dos filhos, e eles, por não tentarem estender-lhe a mão. Mas ele tinha um senso de justiça, tinha ética. Ele o externou quando salvou Thao de ser violentado pelos gângsters e a prima dele, de um estupro por negros. Eles tentam uma forma de agradecê-lo e isso inclui uma semana de trabalho prestado a ele por Thao. É uma convivência imposta, mas uma oportunidade de ele passar o que aprendeu e evitar que alguém siga o mesmo caminho que ele. O que ele deveria fazer pelos filhos e não fez.

E, ao contrário do "Sobre meninos e lobos", onde o destaque estava para a parte ruim do ser humano,"Gran Torino" parte da parte boa. Do que é imutável na natureza das pessoas. A identificação entre Thao e Walt parte disso. O destino de Thao, como o de Walt, não seria uma escolha, mas uma imposição. Apesar de matar, ter atitudes não condizentes com sua natureza, os valores dele são imutáveis. Eles se modifica perante as pessoas, contrai um câncer, ele sufoca os sofrimentos. Seus vizinhos estranhos percebem a sua bondade, ele a passa para o Thao, ele o protege, e lhe dá uma escolha.

Impressionante o simbolismo do Gran Torino e da espingarda. É uma relíquia, um carro raro, caro que todos almejam e o único bem que a família não herda porque ele deixa para o Thao que é merecedor. E quanto à arma, ele a utiliza o tempo todo, mas faz a justiça sem ela.

sábado, 2 de maio de 2009

Sobre o chilique do Joaquim

A gente, quando está na faculdade, sempre escuta que o STF é um órgão muito mais político que judicial. Até é. Há decisões estranhas, opinões mais engajadas, mas, não é um órgão composto por pessoas eleitas pelo povo. São pessoas que entendem bem os cargos que ocupam. E o comportamento que têm é resultado disso. Não se vê muitos histrionismos normalmente.

E aí que surge um que chama atenção da mídia.O primeiro negro no STF (mentira, já houve, mas disseram que é, porque minoria tá na moda), e ele já emenda sartrianamente: !Não serei um negro submisso no STF. Vai pra capa da Veja por causa do mensalão. Ponto, tá feito. Joaquim Barbosa: prêmio Barak Obama. E aí que Gilmar Mendes é presidente do STF e não tem o apoio da mídia, porque ele que "soltou" o Daniel Dantas. A mídia diz isso e todas as comunidades de haters na internet acham que é isso mesmo. Foi a guerra do ministro justiceiro contra o ministro corrupto.

E tem uma frase do Sartre, que eu citei anteriormente, que diz assim "Preto é uma pedra que te atiram. Se você atira de volta, será um negro". Isso é ma das coisas mais idiotas que um intelectual já disse. Sim, meu nome é Fábio, e eu estou dizendo que Jean Paul Sartre disse uma coisa IDIOTA. Tudo bem que ele morreu bem antes da minoria resolver defender a idéia de democracia agonista, desse carnaval que virou e que ele se arrependeria mais amargamente que o Chico com Mulheres de Atenas.

Nem é questão de falar do oportunismo, da vontade de aparecer ou da representatividade que el tem. Ninguém deve ficar aonde não é o seu lugar e o STF não é o lugar do Joaquim Barbosa. Todo aquele chilique foi pra aparecer na mídia e quando ele disse que o Min Gilmar Mendes estava na mídia, não na rua, ele ratificou bem isso. Transformou o STF num lugar de atirar pedras, de que só ele é quem pode fazer. Não deveria existir lugar pra gente que não sabe tomar as decisões certas, só as convenientes.