sábado, 25 de outubro de 2008

"Matou por amor"


Depois da série de comentários sobre os filmes do Kieslowski, vou comentar sobre o caso Eloá, de forma a tentar não ser redundante - motivo que me tem feito optar por não falar sobre cotidiano-. A questão é que este caso serviu de espelho para uma série de outras "loucuras de amor" por todo o país. E o velho questionamento da primeira série dos filmes que deram origem ao "Decálogo" parte da premissa de que, apenas quando se está diante de um conflito insolúvel, as pessoas pensam nas conseqüências de suas ações.

Um crime pressupõe ação, um verbo. Este verbo, quando praticado, gera uma conseqüência jurídica. O verbo está previsto no código penal e também a resposta dada a quem pratica a conduta criminosa. O código quer que você não pratique a conduta. E, pra isso, ele prevê uma punição. O problema é que quem comete crimes pensa no antes, no durante, mas nunca no depois. Justamente quando não se pode voltar atrás, é que se pensa no que se fez. Principalmente no caso de quem deveria agir e não o fez.

O caso da Eloá aconteceu com um jovem que não pensou no que ele estava fazendo. O objeto da sua conduta era a namorada. Fica difícil imaginar que ele tivesse algo à sua frente, como a lei, como o direito, como a ética. Isso não justifica, explica. Uma coisa é um crime onde o agente quer obter vantagem - a vantagem é o fim- outra é quando ele planeja, executa, mas não tem uma finalidade específica. Ou seja, ele chegou ao apartamento, manteve sob cárcere privado a namorada, uma amiga e alguns reféns. Liberou todos, menos ela. Não o fez por dinheiro, aparecer na TV, ou pelo que aconteceu a ele.

O problema é que o caso tomou repercussão nacional, muitas autoridades interferiram, agressor e vítima deram entrevista ao vivo pela televisão. E o que era um crime passou a ser visto como "prova de amor". E disso originou-se a série de crimes idênticos em todo país. Ele não foi tratado como criminoso. A atitude do Estado e da imprensa diante do caso não foi respectivamente evitar uma tragédia ou informar a respeito. Foi de interferir dramatizando, o que deixou as autoridades policiais inertes. As interferências fizeram com que o Lindembergue fosse um herói, e não caísse em si, diante do que ele estava cometendo. E é primordial que o criminoso caia em si para depois se entregar.

Então, a ação do Estado estava atribuída à polícia. Ela não agiu como deveria, o Estado responde pelo resultado. Não era função da Sônia Abraão interferir nas negociações, mas não foi crime o que ela cometeu. Foi antiético, indevido, contributivo para a tragédia, mas não se tem como enquadrá-la criminalmente. Apenas nos danos morais.

E a mesma imprensa, os influenciadores da opinião pública, os estudantes, doutores, bloqueiros, "autoridades qualificadas a comentar" tecem teses a respeito do machismo, da falta de segurança, injustiça, pena de morte, prisão perpétua, e, principalmente, legitimam atos de violência já cometidos (ou às vias de serem cometidos) contra o Lindembergue.

Ninguém vê sua parcela de culpa na situação. Nem no fato de que são homens que estão a frente de instiuições, que violência nunca se justifica em si mesma. E que a agressão que o Lindimbergue sofreu, qualquer coisa feita contra ele, será crime da mesma natureza, e o motivo igualmente torpe. E a sociedade, quem apóia tais atos e o Estado, na figura dos policiais que o agrediram, serão igualmente criminosos.

*Datena tanto disse que a Sônia foi antiética que ele mesmo está incitando o linchamento do Lindembergue, falando que o pai o mataria na peixeira e que ele não escapa da cadeia. Bem alto nível!


domingo, 19 de outubro de 2008

" A Dupla vida de Veronique"

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O filme é centrado em duas perosnagens de nome e aparências idênticos, que partilham das mesmas aspirações. Elas não se conhecem. Uma, Veronique, vive na Franca e a outra, Veronika, vive na Polônia. E, apesar disso, elas não se sentem sozinhas no mundo.

Veronika tem uma vida centrada em si mesma, não presta a atenção aos sinais que a vida lhe passa. Sofre de uma doença do coração, congênita e de difícil identificação, que matou outras pessoas em sua família que morrem jovens e precocemente. Vive para si, despreza o namorado e faz sexo com estranhos. Não tem muito vínculo familiar, mas tem um talento para música e acaba parando , por acidente, num concurso de música que vence e se torna uma cantora do coral. E, andando na rua, diante de protestos, vê Veronique. É o único momento em que as personagens se cruzam, mas Veronique não a percebe. Veronika morre do coração durante uma apresentação do coral.

Veronique aparece no filme a partir da morte de Veronika, quando decide abandonar a carreira de cantora, contrariando a todos. Diferente de Veronika é atenta aos sinais, intuitiva, tem presságios. Ela pressente a doença do coração e vai ao cardiologista, advinha correspondências. Tem uma relação carinhosa com o pai. Apaixona-se por um ventríloquo que a identifica numa foto (Veronika) batida por Veronique numa viagem à Polônia, registro em que ela a viu. E aí, ela chora, e começa a entender o sentimento estranho que sempre sentiu: a presença da outra.

Esse filme é uma obra aberta, Kieslowski o fez após o sucesso do Decálogo, quando também descobriu que sofria do coração. Parece ser um filme reflexivo sobre o seu drama pessoal.Do questionamentos que temos sobre a vida, sobre o famoso "se", das possibilidades que existem para que sigamos o nosso caminho. Alguns não dão atenção a esses sinais, outros vivem em função deles.

Kieslowski filmou sete finais para o filme, sem nunca se decidir ao certo qual seria o melhor. Por isso, é de difícil entendimento. O que não acontece com a Trilogia das Cores. Destaque para a atuação da Irene Jacob e para a trilha sonora. Impressionantes!


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"A fraternidade é vermelha"


Último filme da trilogia. Trata da estória de Valentine. Personagem que representa a fraternidade. Modelo, vive sozinha, mas mantém seu vínculo com a mãe e com o irmão - viciado em drogas- e um conturbado namoro com uma pessoa que não a ama. Preocupa-se com os outros sem pedir nada em troca e, assim, que ela conhece o juiz. Ela atropela a cachorrinha dele e a leva para casa dele. Diante da recusa do juiz em ficar com a cachorra, ela a leva ao veterinário, para casa.E depois volta á casa do juiz, ao ver que ele lhe deu o dinheiro pra tatar do cachorro. Devolve-lhe o que falta, apresentando a notinha. E tal fato o supreende.

Quando entra em sua casa, descobre que o juiz bisbilhota a vida dos vizinhos, através de escutas telefônicas. Fato que, claro, ela repudia, mas não entende a princípio e, diante da chance de entregá-lo, hesita, volta para a casa dele. Ela compartilha com ele o segredo, ao mesmo tempo que vai surgindo uma amizade e ambos vão contando seus segredos.Ela representa pra ele o que ele buscava numa mulher. Uma esperança que veio tarde. É como se um merecesse o outro, mas é tarde demais. E, paralelamente, um juiz está se formando, passando nas provas e tem uma estória idêntica a do juiz aposentado.

O que o filme quer passar é que, diferente dos outros dois, onde o protagonista sempre está presente nas cenas, existem mais pessoas assim no mundo. Perto de nós, mas não a percebemos. Fraternidade representa amor ao próximo. Ajudar sem interesse. E, por não nos encontrarmos com elas, pensamos que elas não existem. E o juiz vive assim, desacreditado no ser humano. Por ser observador, sabe como são as pessoas, não se surpreende. E já acha falta de modéstia julgar. Que, pra ele, inclusive, quer dizer pôr-se no lugar dos outros, sabendo que jamais estaria.

E quando ele vê em Valentine alguém como ele, sente um amor platônico, percebe que não é correspondido além da delicadeza de um sentimento fraternal. Retribui apenas o que lhe é dado, claro. O jovem juiz tem uma estória idêntica, pensamento idêntico ao dele, talvez, um desejo de que tudo dê certo , que é possível, não sonho. Que certas coisas nos acontecem ao acaso*.

O filme também marca o reencontro das três personagens principais da trilogia. De um naufrágio, onde eles são sobreviventes e de onde recomeçarão suas vidas.


* É sugerida uma troca de olhares entre Valentine e o jovem juiz Auguste. Talvez eles tenham um relacionamento, talvez não. A idéia é de levantar a possibilidade que sempre existe, como várias vezes, o juiz pode ter passado e não percebeu.

* A pedido de Valentine, o juiz se entrega à polícia. E a vizinhança passa a jogar pedras em suas janelas. Alusão literal ao ditado "hoje é pedra, ontem era vidraça"

A Igualdade é branca


Segundo filme da trilogia, trata da estória de Karol, polonês casado, abandonado e divorciado da francesa Dominique. O motivo do casamento é não-consumação, alegada pela ex-esposa, que, além de humilhá-lo perante o tribunal, jogá-lo na sarjeta, ainda o deixa sem dinheiro algum e sem o passaporte para voltar pra Polônia. Sem dinheiro, vive como mendigo, amando a mulher, porém sem desejá-la. E, irada com isso, queima o próprio salão e culpa o marido pondo a polícia atrás dele.

Aí, na miséria ele conhece Mikaiv, também polonês, com esposa e filhos, porém infeliz. E, diante da situação de seu compatriota, o ajuda a voltar e se reerguer. Ele volta na mala de Michaev. E é sobre esses dois que se funda a temática do filme: igualdade, identificação, nacionalismo, amizade verdadeira que existe entre eles.

Quando ambos voltam para Polônia, Karol arquiteta um plano de reconquista e vingança contra Dominique, superando o seu amor por ela. E isto inclui ganhar muito dinheiro e ficar rico, driblando os bandidos pra quem passa a trabalhar pra juntar dinheiro rápido. Nesta fase, além do reerguimento, fica óbvia a ascensão social de Karol. E metaforicamente, os estágios do amor e da conduta amorosa. A situação de miséria e submissão ao amado, toda a engenhosidade da reconquista e depois o domínio sobre ele. E, no amor, conduta e objeto se confundem e está à parte de qualquer julgamento. O filme mostra visivelmente a transformação por fora e por dentro.

Quando consegue abrir uma empresa, chama o amigo pra administrá-la com ele. Em retribuição à ajuda em dinheiro que lhe foi dada*. E, ambos dirigindo, surge uma outra questão: a vingança e, para isso, pede a ajuda de Mikaiv, que é incondicional e completamente sem interesses. O plano consistia em trazer Dominique para a Polônia, a interesse da fortuna juntada por Karol, testamentada por ele com oherdeira única . E, diante do fato de ele estar supostamente morto, que ela visse o enterro, e, depois fosse acusada por assassinato. E no dia em que ela volta do funeral, ele a espera na cama, ambos transam, ela tem prazer e neste momento, o jogo vira. Ela se vê apaixonada e ele por cima da situação. E ele sai, deixando-a dormir, e a polícia chega avisadapor Mikaiv.

O final do filme é ele visitando-a na cadeia e gestualmente ela diz que o ama e que quando sair, gostaria de casar-se com ele novamente.


* O amigo, num momento de dor, contrata Karol para matá-lo. Plano que arquiteta desde que estava na França. E Karol deixou espaço entre as balas, e o convenceu a querer viver. E a rejeição ao pagamento é prova da sinceridade da amizade e igualdade entre eles. Karol toma como empréstimo.

domingo, 12 de outubro de 2008

"A liberdade é azul"


Trata-se do significa de liberdade. Que, para o ser humano, quer dizer independência, desapego às conveniências, submissão a constragimentos físicos ou morais. Julie representa isso: um ser livre. Todo o significado dicionarizado de liberdade será uma característica dela.

No início do filme, ela é a única sobrevivente de um acidente de carro, no qual morrem seu marido e sua filha. Ela tenta se matar, mas não consegue. Sente a dor de perder pessoas que ama. Rica, volta para a mansão onde vive e depara-se com a solidariedade dos empregados. E, generosa, dá-lhes tudo que herdou do marido, vivendo apenas do que ela tinha em sua conta pessoal. Garante a vida da empregada, do jardineiro, da mãe. Tenta livrar-se das lembranças e do que remetia à sua família, põe a casa à venda e vai morar sozinha, sem deixar rastros. Ela tem alguém que a ama: Olivier. E ela sabe que ele a ama, ela cede a ele, mas por uma uma noite. Faz-lhe café de manhã e sai. A imagem que se tem dela é de ser uma mulher inabalável, que não sofre, não sente dor - ela se fere, correndo a mão num muro-, mas falta lágrima. E sua atitude é livrar-se de qualquer vínculo com as pessoas, que, segundo ela, é armadilha.

Ela aluga um apartamento. Num dia, fica com a porta trancada fora de casa, quando vê que uma vizinha, prostituta, recebe homens no seu apartamento. E os outros vizinhos a condenam e fazem um abaixo-assinado para sua expulsão do edifício por receber homens em casa. Manifesto que July não assina porque "não é da sua conta" o que a vizinha faz. Não faz julgamentos, não compartilha do constrangimento moral feito pelos outros condôminos à sua vizinha prostituta. E, além disso, num outro momento, a pedido da então amiga, vai ajudá-la a recuperar-se do choque de ter visto o pai entre os homens na casa de prostituição e striptease em que trabalhava. Mesmo gostando do que faz, ela mesma se condena. E Ela diz: "salvou a minha vida" , por ter sido alguém com quem ela pôde contar. E ela não tinha ninguém.

E, mesmo tendo a intenção de livrar-se dos arquivos do marido, amigos em comum salvam documentos, fotos e uma partirtura inacabada. Ele era músico ,famoso, e estava a compor uma ópera. Ela não queria descobrir segredos do marido, vincular-se ao passado. Mas há necessidade de se assegurar a algo e, muitas vezes, há pessoas que precisam de nós. E ela descobre a amante que esperava um filho de seu marido*. Decide dar-lhe a casa, para assegurá-la de criar bem o filho. Esperava-se ódio dela, mas ela não o tem.

E, durante o filme, uma música vai sendo composta, o último gesto dela em relação ao marido. A constatação de sua generosidade. Ela e Patrice ficam encarregados de terminá-la, mas é feito de tal forma que eles a refazem totalmente. E ela tem um amor, de Olivier, que a esperava durante todo o tempo.

E, no final do filme, aparecem todas as pessoas que foram agraciadas por sua generosidade.

A liberdade é isto: o desapego, a desvinculação de qualquer coisa, pessoa, sentimento que o façam a fazer algo que não quer, ou porque lhe é imposto. É a opção por fazer por vontade.

*Interessante o simbolismo do amor do marido de Julie usado por Kieslowski. É uma cruz numa corrente que tanto Julie quanto a amante carregavam no pescoço. Ele dava pra quem amava. É um vínculo criado. Com a morte dele, o vínculo com Julie se rompe, mas, com a amante, existe um bebê. Ela esquece o vínculo, a corrente que arrebentou durante o resgate. E um rapaz tenta deveolvê-la. Ali fica o simbolismo do fim do luto. E o recomeço.

** O filme todo tem um aspecto visual azulado, a água representa o renovação, renascimento - ou recomeço- de Julie. E o filme é a representação de sua liberdade e de como ela recomeça a vida. No final ela chora.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Não matarás



É um filme sobre o advogado. De como ele se vê na profissão que, apesar de ser uma função social, quanto mais se dedica à ela, mais se conhece as pessoas. E, apartir daí, a gente já não sabe mais dizer se quer ou não ser um. Não se trata de violência apenas, mas de individualismo e de falta de sensibilidade.

O filme trata de três personagens: o advogado que se forma e pega seu primeiro caso; o cliente, um rapaz de vinte anos que mata um taxista e o taxista, que depois de ter tanta sorte e ganhar dinheiro na vida - e guardá-lo só para si-, teve o azar de um dia ser vítima. Os três personagens são retratados da forma como percebem os outros e de como se comportam socialmente. O advogado é um exemplo de ser humano: ético, percebe as pessoas em volta, gentil. Ele compartilha tanto sua felicidade como é solícito. O taxista vê as pessoas em volta, mas faz questão de ignorá-las. E o assassino, Jasek, é filmado como se todos fossem pano de fundo, ele é solitário. E se vê assim, como um abandonado pela sociedade. E daí, ele não se sente no dever de ser ético com ela e faz questão de ser o contrário. Nisso vítima e assassino são idênticos. Só que o taxista teve opção e Jassek, aparentemente, não. E ele é vítima de pessoas que ele ignora, o que não deixa de ser uma conseqüência de seus próprios atos.

Kieslowski segue o mesmo raciocínio do filme "Não amarás", das ações tomadas em uma direção a um conflito insolúvel. De forma que há sempre a opção de parar, pois percebe-se, de imediato, ao vivo, as conseqüências das ações e, mesmo assim, o ator não pára. E o questionamento passa a ser a respeito de a partir de que ponto tudo poderia ser diferente. Aonde fica a responsabilidade de um e de outro. Quem faltou com quem, e a que ponto as conseqüências das ações afetam que mas praticou.

Ao longo do filme, o diretor vai colocando diversas situações em que ser ético, faz a diferença. Mas somente sob o ponto de vista dos dois personagens sobre os quais se estrutura o tema do filme. E de como pequenos gestos poderiam mudar toda a estória.

No início, o taxista - que ganhou várias vezes na loteria e vivia como taxista, guardando o dinheiro só pra si, omitindo da esposa- arranca com o carro deixando pra trás um casal no frio, com quem ele havia combinado a corrida, que o aguardavam terminar de lavar o carro. Depois, de assustar cachorrinhos, negar-se a levar um bêbado no carro, tem o assassino em seu carro. Morre pedindo piedade ( que não deixa de ser um gesto de gentileza).

O assassino é todo politicamente incorreto, mas como reflexo tem uma sociedade que o isola, por opção, por sua aparência. E nota-se bem a má vontade das pessoas desde um pintor de rua até uma senhora que dava comida aos pombos que pedia para que saísse pois os assustava. Os dois únicos gestos de gentileza dele vêm de uma brincadeira que faz num café com duas pré- adolescentes e com uma namorada (casada) a quem havia prometido dar um passeio nas montanhas. No final, que se sabe que ele foi banido da vila onde morava porque sua irmã havia sido morta atropelada por um amigo seu que antes de dirigir o trator que a atropelou, bebera com ele. Pede pra ser enterrado junto à menina, sua irmã, que representa voltar para o ponto onde tudo dava certo. Eles se separaram,coisas erradas aconteceram.

E no final, depois de toda a tragédia, que a situação começa a dizer que só quando um mal acontece que se passa a pensar nas outras pessoas. Que um mal que se pode evitar hoje,a alguém é o mesmo que poderia vir a nós por omissões dos outros. E que o comprometimento tem que ser individual independente de quem seja o outro. "Fazer o bem não importa a quem" é o mesmo que ser correto com os outros é acertar consigo mesmo. E o advogado fez o melhor que pode: "como advogado e ser humano". Mas não estava nas mãos dele decidir. E ainda assim, ele se sente responsável. Porque ele estava no mesmo café que o assassino no dia do crime, pressentiu o mesmo, mas não via como fazer alguma coisa. E a única coisa que ele poderia e fez foi ser gentil, por estar diante de um ser humano.

Então, da mesma forma que a violência é natural do ser humano, a gentileza também é.

"Não matarás" é "A short film about killing", 1988, Krzisztof Kieslowiski.